Alexandra sentia-se cansada. Durante o
dia tinha pensado nas experiências estranhas que lhe tinham acontecido nos
últimos tempos, nos sonhos premonitórios, na sensação de uma presença perto
dela. Mas a lida diária desviou-lhe a atenção e quando caiu na cama ensonada
não sabia a viagem que lhe esperava.
Alexandra dormiu profundamente. No dia seguinte, já desperta de um sono bem
longo começou a se recordar do que tinha sonhado. O relato que se segue
respeita as descrições espontâneas feitas pela própria.
No início do
sonho Alexandra viu pessoas acabadas de morrer. Havia alguém, que não um anjo,
mas um ser luminoso a orientar os mortos no sentido ascendente, percebendo-se
que estes seres (os falecidos) estavam leves. Curiosa pelo momento da morte,
foram-lhe apresentadas as imagens desse momento, como uma espécie de prova.
Depois
sentiu-se como morta. Ouvia tudo, deitada numa cama. Percebia a luz. Tentava
com grande esforço abrir os olhos, mas nunca conseguia. Lutou, mas cansou-se e
a certa altura pensou que não valia a pena. Deixou-se ficar percebendo que com
os olhos fechados conseguia ver, embora ciente de que estava noutra dimensão. Ali há uma sensação de estranheza. Até as cores são diferentes e as formas são
distintas também. Mas isso é difícil de pôr em palavras.
A certa altura
é explicado como funciona o contacto através de uma médium. Há uma pressão para
abrir os olhos e é como se o morto passasse a ver novamente como quando estava
vivo (via as cores e as formas tal como quando estava viva). Ouvia o que a
medium dizia, mas com uma sensação de dessintonização ou de comunicação com
falhas.
Houve outra
visão do que parece ser a fronteira de um
subplano inferior do plano astral, percebido como uma densa barreira de
nevoeiro. Um nevoeiro que não há neste mundo, que não permitia a passagem, como
se repelisse magneticamente. Há a percepção que do outro lado estaria algo
muito negativo.
Durante todo o percurso havia alguém a orientar, uma figura masculina aparentemente. Alexandra era levada de
um lado para outro conforme a curiosidade.
A tal figura
transmitiu a ideia de que sabia quem ia morrer a seguir e dispunha de uma
espécie de diagrama ou árvore com isso. O exemplo dado foi a família de
Alexandra, mas apenas como exemplo, sublinhe-se isso, pois ele tinha outros
seres para acompanhar, e de todos, ele sabia a ordem de chegada. Foram dados a
Alexandra dois nomes da sua família que irão falecer mais brevemente, ou seja,
os próximos na lista.
Há a sensação
de que se pode fazer o que se quiser, viajar para qualquer sítio, inclusive
para o fundo do oceano, mas ao mesmo tempo isso parece que não é real. Não há
uma libertação, há ainda um peso. Há qualquer coisa de cinzento, não é pura
luz. Falta libertar alguma coisa, para sentir tudo de uma forma mais
"pura". É uma falsa sensação de libertação.
Para Alexandra, há a percepção de que o processo é individual e solitário.
O ensinamento
deste sonho parece ser que quanto mais nos depurarmos das coisas
insignificantes da vida mais fácil vai ser a libertação do "peso" que
ainda levamos depois de morrer e que se sente no processo de transição para a
libertação total.
Talvez quem
tenha conhecimentos teóricos do processo possa beneficiar de saber que está num
processo e que nada daquilo é também real. Provavelmente haverá maior
frustração/insatisfação em comparação ao ser humano que não sabe ou nunca quis
saber sobre o que acontece depois da morte física. Será que os que sabem passam
menos tempo naquele estádio?
O plano astral
acaba por ser um prolongamento deste. Quanto mais verdadeiros formos connosco
aqui, maior será a sensação de nós próprios lá. Quanto mais ilusões tivermos
durante a encarnação (em relação ao amor, a quem pensamos que somos, a
como nós vemos a nossa ligação com os
outros e com o que nos rodeia) mais ilusório será o outro plano. Tão ilusório
ao ponto que a pessoa não terá sequer a mínima sensação de que o que está a
vivenciar é uma ilusão.
Por exemplo,
alguém que tome uma determinada medicação que a deixa com uma percepção errada
da realidade, terá uma "capa" que será necessário retirar nesse plano
mais subtil. São inúmeras as camadas que temos em nós quando estamos do outro
lado e que dão a sensação de peso, de ausência de plenitude.
É como se
existisse um maior ou menor distanciamento da causa principal que determina o
grau do nosso sofrimento depois de morrermos. Se a causa do nosso sofrimento no
plano terrestre foi, suponhamos, falta de amor, esta falta de amor desencadeou
um conjunto de más acções e escolhas, que nos foram afastando da fonte
principal (o amor), e que se vão
tornando em camadas e mais camadas que se vão prolongar/espelhar no plano
astral através de mais ou menos sofrimento.
E aqui termina
o relato da Alexandra. Para quem conhece alguma da literatura sobre o
post-mortem, o relato não será surpreendente. No entanto, por o considerar rico,
especialmente do ponto de vista psicológico, decidi colocá-lo no Lua em
Escorpião. Acrescente-se que Alexandra não tem por hábito a leitura de livros
sobre este tema, o que reduz as hipóteses de tudo ser um produto da mente.
Este post é pois baseado numa experiência pessoal verídica.
Se foi criação ou não da mente durante o sono, cabe ao leitor julgar.
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