Mais acessíveis em termos de compreensão, as obras de
Leadbeater acabaram por “substituir” o legado,
para muitos impenetrável , deixado por HPB. Esta “substituição” começou nos
inícios do século XX, mas teve efeitos duradouros. Uma minoria de teosofistas
manteve-se contudo fiel a Helena Blavatsky. Esporadicamente dentro da Sociedade
Teosófica surgiam vozes mais críticas do papel de Leadbeater (e de Besant) como
E.L. Gardner e Geoffrey Farthing. Nas outras organizações de Pasadena e na Loja
Unida dos Teosofistas, os livros de Leadbeater nunca entraram. A palavra “substituição”
deve ser entendida no sentido prático, ou seja as obras de Leadbeater
tornaram-se mais populares para os teosofistas, em detrimento dos escritos
deixados por Helena Blavatsky. Mas essa “substituição” é enganosa, pois existem
muitas discrepâncias e explicações completamente contrárias relativamente a
alguns fenómenos, como pode ser comprovado aqui.
Sem querer entrar em grandes detalhes, é de referir que
Annie Besant tomou o lugar de Helena Blavatsky após a morte desta, num processo
muito controverso (e ainda hoje contestado) que viria a causar uma cisão na
Sociedade Teosófica, com o norte-americano William Quan Judge a entrar em
ruptura com Besant e a criar uma
organização independente em 1895, levando com ele muitos outros teosofistas. Judge
faleceria no ano seguinte, deixando no seu lugar a também controversa Katherine
Tingley. Em desacordo com Tingley, Robert Crosbie abandonaria a Sociedade
Teosófica americana e fundaria em 1909 a Loja Unida de Teosofistas. Outros
grupos mais pequenos formaram-se, para desaparecerem uns anos mais tarde. No
site da Fundácion Blavatsky podemos encontrar um esquema com todos os
“herdeiros” da Sociedade Teosófica original. Hoje em dia as mais influentes são
a ST Adyar (a fundada por Olcott , HPB e Judge, entre outros), a ST Pasadena
(que resulta da organização fundada por Judge em 1895) e a Loja Unida dos
Teosofistas. Estas duas últimas são as que mostram maior preocupação pela
preservação da Teosofia original, mas a ST Adyar continua sendo a mais
representativa, privilegiando bastante as ideias deixadas por Krishnamurti que curiosamente repudiou
a ST em 1929, negando ser o instrutor do Mundo conforme afirmavam Besant e
Leadbeater.
A história da Sociedade Teosófica é cheia de peripécias, por
isso torna-se muito complicado fazer menções a vários acontecimentos num texto
tão pequeno. O processo de substituição de Blavatsky na liderança da ST, os
anos de presidência de Besant e os acontecimentos de 1929, com o afastamento
voluntário de Krishnamurti são histórias cheias de detalhes que serão com
certeza alvos de posts com conteúdo mais específico no futuro.
A luta contra os falsos profetas da Teosofia é algo que
começou nos tempos de Blavatsky e que continua nos dias de hoje. Na verdade,
com os meios tecnológicos que temos à disposição essa luta nunca foi tão fácil.
Talvez seja por isso que é notório o acréscimo de interesse pela Teosofia
original em detrimento do sucedâneo de má qualidade que foi criado pelos
sucessores da Velha Senhora. Os factos são indesmentíveis, e embora ainda
existam muitos partidários da neo-teosofia (apelidada de pseudo-teosofia pelos mais
críticos), numa guerra de argumentos, os defensores da Teosofia original
marcam facilmente a sua posição.
Mas, o objetivo central deste post é a tradução de um
excerto de um texto que se encontra em Fundácion Blavatsky, intitulado “O Estudo da Teosofia”.
Um dos capítulos do mesmo intitula-se “Os falsos profetas da Teosofia”. E
começa assim:
“A Luz produz necessariamente a sombra e toda a Verdade a
ser apresentada a um mundo impreparado como o nosso conduz de imediato à sua
deformação, degradação e antropomorfismo, às mãos dos “falsos profetas”, gente
sem escrúpulos que, aproveitando-se da credulidade e do psiquismo pela qual
atravessa actualmente a humanidade, desvirtuam a ciência esotérica com supostas
“revelações pessoais”, “visões astrais”, “mediunidade real ou fictícia”,
“canalizações”, “magia negra disfarçada de branca”, “rituais promíscuos”, “o
caminho fácil do sexo para supostamente alcançar a iluminação espiritual”,
“busca imoderada e egoísta de poderes psíquicos”, “invocação de anjos e
elementais”, “adoração de gurus e supostos Messias”, “canalizações de
extraterrestres”, “orações, decretos, luzes violetas”, “Grandes Invocações”,
“Vindas de Cristo”, “Iniciações à distância, inclusive pela televisão”,
“degradação da imagem dos Mestres”, etc…
O estudante não deverá se surpreender se, subjacente ao nome
da Teosofia encontrar no presente uma literatura massiva, que salvo no nome que
está na capa ou no símbolo de uma editora teosófica, não tenha absolutamente
nenhuma semelhança com a Doutrina Secreta Arcaica ou Teosofia, ressuscitada no
final do século XIX por H.P. Blavatsky e os seus Mestres.
As deformações da Teosofia já existiam na época de HPB, como
comprova o artigo escrito por ela em 1889 intitulado “Acerca da Pseudoteosofia”,
na qual diz que “se não se abordasse o tema dos ‘falsos profetas da Teosofia’
os verdadeiros profetas seriam muito rapidamente confundidos com os falsos –
como já o foram” [CW, XI, 45].
Não obstante, ao cumprirem-se os primeiros cinco mil anos do
Kali Yuga, por volta de 1897-98 e apenas seis ou sete anos depois da morte da
HPB, as sementes do psiquismo, que se encontravam latentes entre alguns dos
membros do Movimento Teosófico, explodiram dentro de uma das organizações
teosóficas mais espalhadas mundialmente, a qual ficou sob o controlo dos
antigos inimigos da Verdade e da Teosofia: o psiquismo, a casta sacerdotal, o
espiritismo e o ritualismo vão;
A referência à casta sacerdotal tem a ver com a criação em 1916 da
Igreja Católica Liberal por Leadbeater e
Wedgwood que trouxe o ritualismo e o igrejismo para dentro da Sociedade
Teosófica.
Deverá se entender esta luta entre a Luz e a Sombra como
algo completamente normal. Afinal, qualquer esforço para dar ao mundo as
Verdade Eternas possibilitam um esforço por parte das forças involutivas no
sentido oposto.
PS - Embora alguns dos pontos referidos neste texto escrito há dez anos continuem a ser válidos, entretanto desenvolvi uma visão mais conciliadora entre a primeira e a segunda geração de teósofos. Há contributos de Besant bastante válidos, como seja o magnífico livro "Do recinto externo ao santuário interno", que é uma verdadeira joia. A segunda geração de teósofos, empenhou-se em tornar a literatura teosófica mais acessível e nesse processo, erros foram cometidos. O ser humano é imperfeito e falível por natureza, por isso ver as questões a preto e branco (os bons contra os maus, os verdadeiros contra os falsos) é profundamente inadequado. Mas é factual que há diferenças de conceitos e que em certos aspetos houve autoilusão e autoengano nos sucessores de Blavatsky. Mas é preciso desenvolver uma visão compassiva e não andar a apontar o dedo e pôr em causa todo o trabalho de uma vida, como se tudo naquela pessoa fosse mau, o que manifestamente não é o caso de Annie Besant. Nesse sentido, hoje não colocaria esse título no meu texto. [Paulo Baptista, 19-11-2022].
Concordo que Besant está em uma área cinza, com muitas qualidades e defeitos. Mas Leadbeater não, este deve se tratar de um psicopata com alta capacidade hipnótica. E Besant foi crédula e deixou um pedófilo denegrir todo o trabalho deixado por Blavatsky.
ResponderEliminarSIm, não tenho opinião positiva de Leadbeater, antes pelo contrário, mas temos que andar para a frente, relevando a boa literatura teosófica e não aquela feita de enganos e autoilusões.
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