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domingo, 1 de abril de 2012

Qual o interesse da Astrologia para um teosofista?


Já várias vezes fiz a mim mesmo esta pergunta. Sabendo que a lei do Karma é algo inquestionável e conceito central na Teosofia, para quê perder tempo aprendendo um sem número de técnicas astrológicas, quando há incertezas em pontos chaves da Velha Arte como a divisão das casas e o tipo correcto de astrologia (a ocidental ou a védica)?

Robert Zoller na introdução ao “Curso de Astrologia Medieval” (DMA) comercializado pela New Library, Ltd elucida sobre a importância da Velha Arte e da relação da mesma com a filosofia/espiritualidade. Zoller a certa altura do texto diz que “é preferível aprender astrologia primeiro; filosofia/doutrinas espirituais depois ou pelo menos não em simultâneo”. “No entanto”, continua o credenciado astrólogo norte-americano, “por razões que serão claras a quem pratica Astrologia medieval, algum tipo de sistema espiritual é visto como essencial para a correcta prática de Astrologia. Isto acontece porque, enquanto à Astrologia per se falta uma doutrina espiritual própria, a sua prática leva, eventualmente, ao reconhecimento da necessidade de ter uma doutrina“. Mas Zoller não aponta um caminho concreto. Contudo refere que “embora, historicamente, a Astrologia medieval tenha as suas fundações filosóficas e metafísicas no Hermetismo, Neoplatonismo e Cabala, julgo não ser sensato perscrever e apoiar uma visão religiosa ou espiritual em detrimento de outras”. O único senão é que essa visão não pode excluir a Astrologia, senão a confusão é total. “O que cada um de nós necessita de um  caminho espiritual/filosófico”, diz Zoller, “é de um guia para a verdade eterna e universal e de métodos que nos permitam perceber o Bem e nos fazer encontrar com o nosso Eu verdadeiro”.

Zoller afirma inequivocamente que a Astrologia medieval é em grande medida fatalista. Existem condicionantes inultrapassáveis para o ser humano, uma realidade que a Astrologia Psicológica tem adocicado. Refere Zoller que, “só reconhecendo que estamos sujeitos às leis dos Céus poderemos escapar da nossa prisão astral e verdadeiramente começar a nossa aproximação à Sabedoria. Esta tem três requisitos: Medo de Deus, Conhecimento do Eu e Amor ao Próximo.

Medo de Deus é o reconhecimento de que estamos presos à nossa constelação astral.
O Conhecimento do Eu é a consciência imediata e duradoura daquela parte de nós que está acima da constelação astral e que é indeterminada [no sentido em que não está sujeita a um destino], universal, com capacidade de amar e livre.
O Amor ao Próximo assenta num relacionamento correcto, justiça, suporte mútuo e conhecimento de todas as coisas boas, vida longa e liberdade.

Os ensinamentos herméticos referem-se ao homem com um ser duplo. O seu lado material é governado pelo destino. O seu lado divino é livre. Aquele que quer ser livre do destino deve cultivar este último lado.(...) Através da Sabedoria, os sábios podem escapar ao horóscopo e ao destino. Devem contudo confrontar-se com os factos da sua existência física. O corpo continua sujeito às regras das estrelas. Mas, tendo atingido a Sabedoria, atingem também a liberdade. Sabem que não são os seus corpos e o que eles são é algo indeterminado e que não pode ser governado pelo destino”.

Zoller mais adiante acrescenta que ”a astrologia natal é o rés-do-chão da prisão que é a nossa constelação. Espiritualmente, tudo o que podemos esperar do rés-do-chão é o conhecimento de onde encontrar as saídas, as rotas de fuga.
A astrologia per se não tira ninguém da prisão. Essa é a função da religião, filosofia e das práticas espirituais (...). Sendo verdade que a astrologia conduz-nos à percepção da existência necessária de uma Inteligência superior, ela não pode por si própria, levar-nos através de um portal ao paraíso.
O que a astrologia pode fazer é descrever antecipadamente as características das nossas vidas. A delineação precisa da figura natal retrata a nossa realidade objectiva. Responde a questões tais como: Vou casar? Terei filhos? Que tipo de profissão terei? Como estarão as minhas Finanças este ano? Serei preso? Como está a minha saúde?

A Astrologia natal tem sido tradicionalmente usada de três modos: para descrever antecipadamente o que acontecerá nas nossas vidas, para manipular a realidade em que vivemos e para explicar as causas espirituais escondidas por trás dos fenómenos que se passam nas nossas vidas. Esta tentativa de manipulação da realidade equivale a magia e está cheia de dificuldades e de perigos escondidos. Muitos astrólogos têm tropeçado nessas armadilhas. São evitadas se a Astrologia for usada como o caminho filosófico que leva ao conhecimento do Um Universal, mais do que ao conhecimento do Eu idiossincrático”.

Pessoalmente uso a Teosofia como a tal fundação de que a Astrologia carece. A Velha Arte é uma óptima forma de reflectir sobre o funcionamento do Universo e sobre o percurso humano numa vida (ou até em várias, pois podemos intuir um pouco sobre a anterior e a próxima). Mas esta escolha deve ser individual. Ligações estreitas entre a Teosofia e  a Astrologia que se criaram nalgumas associações de praticantes de astrologia levaram depois a convulsões e cisões, como o caso do Astrological Lodge of London, que desde a morte do fundador, Alan Leo  viveu periodicamente alturas de confronto entre os astrólogos teosofistas e alguns dos restantes membros. Alguns desses episódios estão descritos aqui.

Para terminar uma frase interessante de Zoller. Diz o astrólogo que “Magia é a operação do espírito sobre o espírito. Astrologia é a operação do espírito sobre o corpo. Alquimia é a operação do corpo sobre o corpo”. As três artes são uma trindade do Oculto, que juntas revelam a foram de operar do Divino.

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