Já várias vezes fiz a mim mesmo esta pergunta. Sabendo que a
lei do Karma é algo inquestionável e conceito central na Teosofia, para quê
perder tempo aprendendo um sem número de técnicas astrológicas, quando há
incertezas em pontos chaves da Velha Arte como a divisão das casas e o tipo correcto
de astrologia (a ocidental ou a védica)?
Robert Zoller na introdução ao “Curso de Astrologia Medieval”
(DMA) comercializado pela New Library, Ltd elucida sobre a importância da Velha
Arte e da relação da mesma com a filosofia/espiritualidade. Zoller a certa
altura do texto diz que “é preferível aprender astrologia primeiro;
filosofia/doutrinas espirituais depois ou pelo menos não em simultâneo”. “No
entanto”, continua o credenciado astrólogo norte-americano, “por razões que
serão claras a quem pratica Astrologia medieval, algum tipo de sistema
espiritual é visto como essencial para a correcta prática de Astrologia. Isto
acontece porque, enquanto à Astrologia per
se falta uma doutrina espiritual própria, a sua prática leva,
eventualmente, ao reconhecimento da necessidade de ter uma doutrina“. Mas
Zoller não aponta um caminho concreto. Contudo refere que “embora,
historicamente, a Astrologia medieval tenha as suas fundações filosóficas e
metafísicas no Hermetismo, Neoplatonismo e Cabala, julgo não ser sensato
perscrever e apoiar uma visão religiosa ou espiritual em detrimento de outras”.
O único senão é que essa visão não pode excluir a Astrologia, senão a confusão
é total. “O que cada um de nós necessita de um
caminho espiritual/filosófico”, diz Zoller, “é de um guia para a verdade
eterna e universal e de métodos que nos permitam perceber o Bem e nos fazer
encontrar com o nosso Eu verdadeiro”.
Zoller afirma inequivocamente que a Astrologia medieval é em
grande medida fatalista. Existem condicionantes inultrapassáveis para o ser
humano, uma realidade que a Astrologia Psicológica tem adocicado. Refere Zoller
que, “só reconhecendo que estamos sujeitos às leis dos Céus poderemos escapar
da nossa prisão astral e verdadeiramente começar a nossa aproximação à
Sabedoria. Esta tem três requisitos: Medo de Deus, Conhecimento do Eu e Amor ao
Próximo.
Medo de Deus é o reconhecimento de que estamos presos à
nossa constelação astral.
O Conhecimento do Eu é a consciência imediata e duradoura
daquela parte de nós que está acima da constelação astral e que é indeterminada
[no
sentido em que não está sujeita a um destino], universal, com capacidade
de amar e livre.
O Amor ao Próximo assenta num relacionamento correcto,
justiça, suporte mútuo e conhecimento de todas as coisas boas, vida longa e
liberdade.
Os ensinamentos herméticos referem-se ao homem com um ser
duplo. O seu lado material é governado pelo destino. O seu lado divino é livre.
Aquele que quer ser livre do destino deve cultivar este último lado.(...)
Através da Sabedoria, os sábios podem escapar ao horóscopo e ao destino. Devem
contudo confrontar-se com os factos da sua existência física. O corpo continua
sujeito às regras das estrelas. Mas, tendo atingido a Sabedoria, atingem também
a liberdade. Sabem que não são os seus corpos e o que eles são é algo indeterminado
e que não pode ser governado pelo destino”.
Zoller mais adiante acrescenta que ”a astrologia natal é o
rés-do-chão da prisão que é a nossa constelação. Espiritualmente, tudo o que
podemos esperar do rés-do-chão é o conhecimento de onde encontrar as saídas, as
rotas de fuga.
A astrologia per se
não tira ninguém da prisão. Essa é a função da religião, filosofia e das
práticas espirituais (...). Sendo verdade que a astrologia conduz-nos à
percepção da existência necessária de uma Inteligência superior, ela não pode
por si própria, levar-nos através de um portal ao paraíso.
O que a astrologia pode fazer é descrever antecipadamente as
características das nossas vidas. A delineação precisa da figura natal retrata
a nossa realidade objectiva. Responde a questões tais como: Vou casar? Terei
filhos? Que tipo de profissão terei? Como estarão as minhas Finanças este ano?
Serei preso? Como está a minha saúde?
A Astrologia natal tem sido tradicionalmente usada de três
modos: para descrever antecipadamente o que acontecerá nas nossas vidas, para
manipular a realidade em que vivemos e para explicar as causas espirituais
escondidas por trás dos fenómenos que se passam nas nossas vidas. Esta tentativa
de manipulação da realidade equivale a magia e está cheia de dificuldades e de
perigos escondidos. Muitos astrólogos têm tropeçado nessas armadilhas. São
evitadas se a Astrologia for usada como o caminho filosófico que leva ao
conhecimento do Um Universal, mais do que ao conhecimento do Eu idiossincrático”.
Pessoalmente uso a Teosofia como a tal fundação de que a
Astrologia carece. A Velha Arte é uma óptima forma de reflectir sobre o
funcionamento do Universo e sobre o percurso humano numa vida (ou até em
várias, pois podemos intuir um pouco sobre a anterior e a próxima). Mas esta
escolha deve ser individual. Ligações estreitas entre a Teosofia e a Astrologia que se criaram nalgumas
associações de praticantes de astrologia levaram depois a convulsões e cisões,
como o caso do Astrological Lodge of London, que desde a morte do fundador, Alan Leo viveu periodicamente alturas de
confronto entre os astrólogos teosofistas e alguns dos restantes membros.
Alguns desses episódios estão descritos aqui.
Para terminar uma frase interessante de Zoller. Diz o
astrólogo que “Magia é a operação do espírito sobre o espírito. Astrologia é a
operação do espírito sobre o corpo. Alquimia é a operação do corpo sobre o
corpo”. As três artes são uma trindade do Oculto, que juntas revelam a foram de operar do Divino.
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