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sábado, 14 de abril de 2012

Afinal quem foi Jesus? (2ª parte)


Na 1ª parte, publicada no dia de Páscoa, vimos a história de Jesus segundo os registos dos judeus e a forma como difere do que podemos encontrar nos Evangelhos. Nesta 2ª e última parte decobriremos qual dessas versões é considerada mais fiável segundo a Teosofia original trazida ao mundo por HP Blavatsky com o auxílio dos Mestres de Sabedoria.

Um deles, o Mestre KH, na carta 38 (ML-90) a certa altura diz: “embora (...)  João Baptista nunca tenha ouvido falar de Jesus, que é uma abstracção espiritual e não foi um homem vivo naquela época”.

Noutro documento não tão conhecido, KH é ainda mais explícito. Numa tradução para um inglês de um texto de Eliphas Levi chamado “Os Paradoxos da Ciência Mais Elevada”, que se destinava a ser publicado na Revista da ST “O Teosofista”, surgiram umas notas assinadas por E.O (Eminente Ocultista), que era nada mais nada menos do que o Mestre KH. E é nestas notas que se encontra a referência mais explícita à história de Jehosuah. Na secção IV do texto, uma nota (ver a número 53 neste link) diz assim:
“Mas ele pregou um século antes do seu nascimento [referindo-se a Jesus]-E.O.”, ou seja, temos o próprio KH a fazer uma afirmação que confirma que Jesus viveu no período temporal mencionado nos documentos da religião judaica.

O tradutor do texto foi Allan Octavian Hume. Este inglês esteve envolvido com a Sociedade Teosófica durante um breve período, tendo trocado correspondência com os Mestres, exactamente na mesma altura que Alfred Percy Sinnett. O seu principal contributo foi o de fundador do Congresso Nacional Indiano, um partido político que teria um papel fundamental no movimento de independência indiano, que viria a triunfar em meados do século XX. Hume, que viveu entre 1829 e 1912 era também um ornitologista amador, algo que chegou-lhe a valer comentários bastantes irónicos por parte de um dos Mestres. Hume tinha um grande intelecto, mas era excessivamente céptico e algo arrogante. No fim acabou por se virar contra os Mestres (a quem chamou de "Asiáticos egoístas") e contra Helena Blavatsky. Tal como muitos personagens daquela época que estiveram ligadas à Sociedade Teosófica, na minha opinião, Allan Hume representa um grupo  de pessoas: o daqueles que por mais provas que tenham, acabam por procurar uma prova adicional que momentaneamente os parece satisfazer, mas passado algum tempo voltam ao início do ciclo.  Inevitavelmente acabam por se tornar cépticos e mesmo que continuem envolvidos com a Teosofia têm uma postura destrutiva.

O texto traduzido de Eliphas Levi, além das observações de KH, tinha as notas do tradutor Hume, sendo que HPB acrescentou também alguns pontos, com o intuito de corrigir Hume. Essas correcções podem ser encontrados num dos volumes dos seus Escritos Reunidos, aqui.

Depois da nota de KH, “Mas ele pregou um século antes do seu nascimento”, Hume escreve:
“Posso explicar porque é que a maior parte dos ocultistas eminentes consideram o Evangelho Cristão como algo idealista, baseado num Jesus que viveu um tempo considerável antes do Anno Domini. Este Jesus, Jeshu Ben Panthera, viveu entre 120 e 70 AC, foi um aluno do Rabi Joachim Ben Perachia, seu tio-avô, com quem, durante a perseguição aos Judeus por Alexandre Janeu, fugiu para Alexandria e foi iniciado nos Mistérios Egípcios ou magia. Ao regressar à Palestina, este Jesus foi acusado e condenado por heresia e feitiçaria (ele era inquestionavelmente um Adepto) e enforcado na árvore da infâmia (a cruz romana) do lado de fora da cidade de Lud ou Lydda. Este homem foi um personagem histórico, e a sua vida e morte estão indubitavelmente provadas. A razão porque eles [os ocultistas eminentes] olham para o Evangelho Cristão como um ideal, baseado na história de Jesus é porque não existem registos contemporâneos ou quase contemporâneos do Evangelho Cristão por parte de historiadores confiáveis. A única passagem em [Flávio] Josefo que se refere a Jesus Cristo é admitida por todos como sendo uma falsificação pura. Claramente Josefo nunca mencionou Cristo, e se as narrativas do Evangelho estivessem correctas ele tê-lo-ia feito. Uma vez mais, Fílon de Alexandria, o mais conhecedor dos historiadores, contemporâneo do Jesus dos Evangelhos, um homem cujo nascimento antecedeu e cuja morte sucedeu ao nascimento e morte de Jesus, respectivamente por dez e quinze anos; que visitou Jerusalém desde Alexandria várias vezes durante a sua longa carreira, e que deve ter estado em Jerusalém pouco tempo depois da crucificação; que, ao descrever as várias seitas religiosas, sociedades e corporações da Palestina, tem o maior cuidado em não omitir ninguém, reparando até nas mais insignificantes, nunca aparentemente ouviu nada (e certamente não menciona nada) sobre Cristo, a crucificação ou qualquer um dos factos celebrados nos Evangelhos. Mais, eles perguntam se Cristo realmente viveu no tempo que se alega, como é possível não existir nenhuma referência no Mishná. O Mishná foi fundado por Hilel, o Ancião em 40 AC e editado e amplificado (até ao início do Século III da nossa Era) em Tiberíades no mar da Galileia, o foco das acções dos apóstolos bíblicos e dos milagres de Cristo. O Mishná contém um registo ininterrupto de todos os heresiarcas e rebeldes contra a autoridade do Sinédrio Judeu e é um resumo diário das acções da sinagoga e uma história dos Fariseus, aqueles que foram acusados de levar Jesus à morte. Como é possível pergunta-se, que as narrativas do Evangelho sejam verdadeiras, e que os acontecimentos aí registados tivessem ocorrido na época alegada,  quando nenhuma referência se encontra para esta sucessão de acontecimentos decidadamente importantes (embora os Rabis acreditassem que Jesus era um impostor) nesta crónica muito elaborada, cujo principal objectivo era registar todas as heresias, divisões e assuntos que afectavam a religião ortodoxa judaica.
Agora perceber-se-á porque é que E.O. disse que Jesus pregou 100 anos antes de ter nascido -NT”.

Aqui está o link para a versão em pdf deste texto (em inglês).

Hume poder-se-á ter baseado num texto de HPB, chamado “ A Word with Zero”, que é uma resposta de HPB a alguém que tinha atacado os teosofistas num jornal indiano, acusando-os de desrespeitarem as figuras de Jesus e São Paulo. Este texto também está nos Escritos Reunidos e podem vê-lo aqui.  

É fácil perceber que muitos mitos foram associados a Jesus. Robert Zoller, na Lição Três do Curso Avançado em Astrologia Medieval refere paralelos no mito de Jesus com o do Deus Grego Adónis e na identificação de ambos com o Sol. Outra curiosidade de Jesus, tem a ver com a ligação à imagem do peixe (que identificava os primeiros cristãos). Ora Peixe deriva do grego ichtys que se escreve ixthus. É um anagrama de Jesus Christos Theos Unigenos Sator. Significa “Jesus (que se pronuncia Yesus) Cristo, salvador unigénito de Deus”.
A mitologia ligada a Jesus, é também focada na primeira parte do polémico filme Zeitgeist, que se tornou viral na internet. Aqui está o link para os primeiros dez minutos do filme, na versão com dobragem em português.

Para saber mais sobre este assunto – que raramente é abordado de frente pelos teosofistas, com medo de ferir suceptibilidades (quão afastado anda o espírito de Helena Blavatsky!), recomendo vivamente o livro de José Manuel Anacleto, “Cristo”, editado pelo Centro Lusitano de Unificação Cultural. A partir de uma série de artigos publicados na revista Biosofia em 2002 e 2003, Anacleto juntou mais material  e publicou um pequeno livro onde se pode encontrar, além desta mais confiável história de Jesus, o enquadramento histórico da falsificação que se produziu nos séculos seguintes à sua morte, referências a algumas das cenas negras que caracterizaram os primórdios da Igreja e o enquadramento do Cristianismo  no conjunto das grandes religiões e suas ligações a outras tradições.

A força do nome Jesus é muito grande no Mundo. Foi sem dúvida, um grande instrutor, o maior do seu tempo, como diz Blavatsky. Uma série de eventos conduziu a que a maior religião do nosso planeta esteja a ele ligada.
Nos momento de aflição é o seu nome que dizemos. Há dias contavam-me que o pêndulo (da radiestesia) responde lindamente a uma folha escrita com o nome Jesus...

Não se pretende aqui diminuir a figura de Jesus e só pensará dessa forma quem tiver a cabeça cheia de preconceitos. O ideal de Cristo tem inspirado uma grande parte da Humanidade, embora na minha opinião quem tem maiores responsabilidades em veicular correctamente esse ideal tem falhado rotundamente e arrastado a civilização ocidental para o materialismo atroz.

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