A morte de Hipátia de Alexandria, marca para alguns
historiadores, o princípio do fim da escola neoplatónica. A bela Hipátia (o
nome significa “a maior, a mais alta, a mais elevada") viveu entre (por volta
de) 355 e 415 da era cristã e o seu
brilhantismo no domínio da Matemática e da Filosofia resplandece até aos dias
de hoje.
Em 2009, o realizador chileno-espanhol Alejandro Aménabar, lançou o
filme “Ágora”, que conta a história de Hipátia de forma parcialmente
ficcionada. Rachel Weisz não é na minha opinião totalmente convincente a
representar a grande filósofa, faltando-lhe aquele magnetismo e carisma que lhe
atribui a história.
Hipátia era filha de Théon, também ele filósofo, astrónomo e
matemático, que acabou por contribuir fortemente para o germinar da semente da
procura pela sabedoria em Hipátia, que haveria de se deslocar a Atenas para
continuar os seus estudos com o líder da escola neoplatónica daquela cidade.
Além do desenvolvimento intelectual, também dava prioridade à actividade
física, praticando natação, remo e hipismo, entre outras modalidades.
Regressada a Alexandria e beneficiando de magníficos dotes
oratórios, foi logo convidada a ensinar, tendo liderado a escola neoplatónica
da famosa cidade.
Amónio Saccas iniciou a escola neoplatónica, depois continuada por Plotino, sendo Hipátia uma das suas continuadoras, a par de Jâmblico e
Proclo, entre outros. Conforme refere José Manuel Anacleto na sua extensa obra
“Alexandria e o Conhecimento Sagrado” (editada em 2008 pelo Centro Lusitano deUnificação Cultural), além do pensamento de Platão, o neoplatonismo contém
“elementos da filosofia Pitagórica, Aristotélica e Estóica” e ainda “elementos
das tradições religiosas e espirituais da Índia, Caldeia, Pérsia, Síria e até
dos Druidas; elementos, em geral, dos Mistérios Egípcios e Gregos”. O livro de
Anacleto contém muito mais material sobre esta escola e sobre os seus
principais dinamizadores.
Segundo parece Hipátia conhecia e praticava a Teurgia, que é definida
no Glossário Teosófico, como “a comunicação com os anjos e espíritos
planetários e os meios para atraí-los para Terra”. Esta forma de magia (uma das
três para além da magia natural e da Goecia ou magia negra) é desaconselhada pois
devido à corrupção no mundo poderá se converter em Goecia. Hipátia era também
versada em Geometria, Música e Poesia. A sua fama era tal que era conhecida
como “a Filósofa” e as cartas eram-lhe dirigidas apenas com esta indicação.
Mas Hipátia não tinha só admiradores. Com efeito, os seus
principais opositores e artífices da sua violentíssima morte foram os agentes de
uma instituição que aparecia então com grande pujança, a Igreja. Entre os seus
detractores destacava-se o arcebispo de
Alexandria, Cirilo. Apesar de Hipátia saber
que corria grande perigo, continuou ensinando os seus alunos (alguns
vinham de distantes paragens), até que um dia um grupos de cristãos fanáticos,
a atacou, rasgando-lhe as roupas e com conchas de abalone (um gastrópode), arrancaram-lhe a carne dos ossos. Os seus restos foram queimados e os seus
trabalhos destruídos. Suspeita-se que a motivação para o seu assassinato seja
de ordem política, pois Hipátia tinha influência junto do governador romano
Orestes.
O bispo João de Nikiû, no séc. VII escrevia que Hipátia “era
devotada à magia, aos astrolábios e aos instrumentos de música, e seduziu
muitas pessoas por meio de ardis satânicos”. Este bispo dizia que ela tinha
encantado muitas pessoas incluindo o governador de Alexandria. E assim
justifica o seu assassinato às mãos de Pedro, o Leitor e da sua turba de
fanáticos.
Resta dizer que Cirilo foi santificado.
Blavatsky menciona Hipátia nos seus escritos, referindo o
seu brilhantismo e destino atroz em Ísis sem Véu (vol. III p.224-5, da edição
em português).