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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Algumas notas sobre astrologia


Se existe uma arte mal compreendida pela grande maioria da humanidade essa arte é sem dúvida a astrologia. Velha companheira da Humanidade (o desde quando não será discutido neste post), sobre ela HPB disse: "A astronomia e a astrologia são irmãs gêmeas, igualmente respeitadas e estudadas na antiguidade. Foi recentemente que a arrogância dogmática dos astrónomos ocidentais reduziram a sua irmão mais velha à posição de Cinderela no domínio da Ciência" (Collected Writings,vol.VI, pp.346-7).

Efectivamente até ao sec. XVII a astrologia era vista como uma arte respeitável e muitos dos seus antigos mestres tinham altos conhecimentos científicos, dominando as restantes das chamadas artes liberais como a aritmética, a geometria, a astronomia, a música, a retórica e a gramática. Para os estudiosos da história da ciência mais puristas deverá ser doloroso ver nomes como Ptolomeu ou Kepler ligados à astrologia. Este último dá até o nome a uma instituição norte-americana, localizada em Seattle que ensina astrologia, o Kepler College.
Com a substituição do modelo ptolemaico, que colocava a Terra numa posição central, pelo modelo heliocêntrico, a astrologia foi perdendo terreno, sendo progressivamente afastada das universidades onde era ensinada. Com a quase ausência de grandes praticantes da arte, arrastou-se penosamente até aos inícios do sec. XX, perdendo-se muito do conhecimento que vinha já de tempos remotos. Alan Leo, um teosofista inglês, acaba por ter um papel importante no reaparecimento da astrologia, juntamente com Walter G. Old (que escrevia sob o pseudónimo Sepharial), este último membro do grupo mais restrito de estudantes que aprenderam com Helena Blavatsky, nos últimos anos de vida da Velha Senhora. A partir daí outros nomes importantes apareceram como o de Charles E. O. Carter e particularmente o de Dane Rudhyar, que acabaria por influenciar o curso da astrologia no que restou do séc. XX, com o aparecimento da chamada astrologia psicológica, que muito deve ao cruzamento da visão de Carl Jung com os escritos de Rudhyar sobre a “Astrologia Humanista”, destacando-se a importância do seu livro “Astrologia da Personalidade” publicado em 1936.
No final do século XX outro movimento começa a surgir, ligado à recuperação da Astrologia dita tradicional. Obras em latim, árabe e em grego começam a ser traduzidas por astrólogos com sólida formação académica e os clássicos voltam à ordem do dia. Embora a astrologia psicológica mantenha o seu predomínio, a astrologia tradicional vai ganhando cada vez mais adeptos, que fascinados pela sua maior concisão e suporte metafísico tentam extrair o que há de mais valioso nos antigos livros e misturar com o que de positivo apareceu nos últimos 100 anos no domínio da astrologia.
Questões centrais continuam a intrigar o meio: é possível a astrologia ocidental e a védica serem ambas válidas, quando existem divergências nos fundamentos? Robert Hand, aborda aqui o aspecto histórico desta questão.
E o sistema de casas? Várias versões, nenhuma unanimidade.
Até que ponto temos livre arbítrio? A visão da astrologia moderna contrasta fortemente com a da astrologia tradicional…
Como se vê, não faltam temas para reflectir dentro da astrologia.
Para terminar o post, um excerto de um dos mais conhecidos textos de HPB sobre a astrologia, que pode ser encontrado nos seus Collected Writings (vol. VI, pp. 227-30): “(…) A ideia comum parece ser que os planetas e as estrelas exercem uma certa influência sobre o destino do homem e que a ciência da astrologia pode determinar; e que existem meios ao alcance dessa ciência que podem ser usados para aplacar as “estrelas maléficas”. Esta noção rudimentar, não entendida filosoficamente, conduz a duas falácias não científicas. Por um lado dá origem a uma crença na doutrina do fatalismo, que diz que o homem não tem livre arbítrio, na medida em que tudo é predeterminado, e por outro lado leva a que se suponha que as leis da Natureza não são imutáveis, dado que certos rituais podem mudar o normal curso dos acontecimentos.(…) Apesar do estudo desta ciência poder permitir a determinação do futuro curso de acontecimentos, não se pode daí depreender que os planetas exercem algum tipo de influência sobre esse curso. O relógio indica; não influencia o tempo. E um viajante de longe muitas vezes tem de acertar o seu relógio de forma a que ele indique correctamente as horas do local que ele visita. Portanto, apesar dos planetas poderem não ter um papel na alteração do destino do homem, a sua posição pode indicar como será o destino…(…) O que é o destino? Tal como entendido pelo Ocultista, é meramente a cadeia de causação produzindo as seus correspondentes séries de efeitos.(…) a nossa actual encarnação, com todas a suas condições, é a árvore que cresceu a partir do que semeamos em encarnações passadas.”

A relação entre astrologia e teosofia é um assunto que levanta acesas discussões, principalmente por parte de alguns astrólogos, mas quem quiser saber o que HPB escreveu sobre astrologia, pode adquirir um pequeno livro que compila o que Blavatsky escreveu sobre o tema, chamado “Astrology of the Living Universe”, de Henk J. Spierenburg.

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