Se existe uma arte
mal compreendida pela grande maioria da humanidade essa arte é sem dúvida a
astrologia. Velha companheira da Humanidade (o desde quando não será discutido
neste post), sobre ela HPB disse: "A astronomia e a astrologia são irmãs
gêmeas, igualmente respeitadas e estudadas na antiguidade. Foi recentemente que
a arrogância dogmática dos astrónomos ocidentais reduziram a sua irmão mais
velha à posição de Cinderela no domínio da Ciência" (Collected Writings,vol.VI, pp.346-7).
Efectivamente até ao
sec. XVII a astrologia era vista como uma arte respeitável e muitos dos seus antigos
mestres tinham altos conhecimentos científicos, dominando as restantes das
chamadas artes liberais como a aritmética, a geometria, a astronomia, a música,
a retórica e a gramática. Para os estudiosos da história da ciência mais
puristas deverá ser doloroso ver nomes como Ptolomeu ou Kepler ligados à
astrologia. Este último dá até o nome a uma instituição norte-americana,
localizada em Seattle que ensina astrologia, o Kepler College.
Com a substituição do
modelo ptolemaico, que colocava a Terra numa posição central, pelo modelo heliocêntrico,
a astrologia foi perdendo terreno, sendo progressivamente afastada das
universidades onde era ensinada. Com a quase ausência de grandes praticantes da
arte, arrastou-se penosamente até aos inícios do sec. XX, perdendo-se muito do
conhecimento que vinha já de tempos remotos. Alan Leo, um teosofista inglês,
acaba por ter um papel importante no reaparecimento da astrologia, juntamente
com Walter G. Old (que escrevia sob o pseudónimo Sepharial), este último membro
do grupo mais restrito de estudantes que aprenderam com Helena Blavatsky, nos
últimos anos de vida da Velha Senhora. A partir daí outros nomes importantes
apareceram como o de Charles E. O. Carter e particularmente o de Dane Rudhyar, que
acabaria por influenciar o curso da astrologia no que restou do séc. XX, com o
aparecimento da chamada astrologia psicológica, que muito deve ao cruzamento da
visão de Carl Jung com os escritos de Rudhyar sobre a “Astrologia Humanista”,
destacando-se a importância do seu livro “Astrologia da Personalidade”
publicado em 1936.
No final do século XX
outro movimento começa a surgir, ligado à recuperação da Astrologia dita
tradicional. Obras em latim, árabe e em grego começam a ser traduzidas por
astrólogos com sólida formação académica e os clássicos voltam à ordem do dia.
Embora a astrologia psicológica mantenha o seu predomínio, a astrologia
tradicional vai ganhando cada vez mais adeptos, que fascinados pela sua maior
concisão e suporte metafísico tentam extrair o que há de mais valioso nos
antigos livros e misturar com o que de positivo apareceu nos últimos 100 anos
no domínio da astrologia.
Questões centrais
continuam a intrigar o meio: é possível a astrologia ocidental e a védica serem
ambas válidas, quando existem divergências nos fundamentos? Robert Hand, aborda aqui o aspecto histórico desta questão.
E o sistema de casas?
Várias versões, nenhuma unanimidade.
Até que ponto temos livre
arbítrio? A visão da astrologia moderna contrasta fortemente com a da
astrologia tradicional…
Como se vê, não
faltam temas para reflectir dentro da astrologia.
Para terminar o post,
um excerto de um dos mais conhecidos textos de HPB sobre a astrologia, que pode
ser encontrado nos seus Collected Writings (vol. VI, pp. 227-30): “(…) A ideia
comum parece ser que os planetas e as estrelas exercem uma certa influência
sobre o destino do homem e que a ciência da astrologia pode determinar; e que
existem meios ao alcance dessa ciência que podem ser usados para aplacar as “estrelas
maléficas”. Esta noção rudimentar, não entendida filosoficamente, conduz a duas
falácias não científicas. Por um lado dá origem a uma crença na doutrina do
fatalismo, que diz que o homem não tem livre arbítrio, na medida em que tudo é
predeterminado, e por outro lado leva a que se suponha que as leis da Natureza
não são imutáveis, dado que certos rituais podem mudar o normal curso dos acontecimentos.(…)
Apesar do estudo desta ciência poder permitir a determinação do futuro curso de
acontecimentos, não se pode daí depreender que os planetas exercem algum tipo
de influência sobre esse curso. O relógio indica; não influencia o tempo. E um
viajante de longe muitas vezes tem de acertar o seu relógio de forma a que ele
indique correctamente as horas do local que ele visita. Portanto, apesar dos
planetas poderem não ter um papel na alteração do destino do homem, a sua posição
pode indicar como será o destino…(…) O que é o destino? Tal como entendido pelo
Ocultista, é meramente a cadeia de causação produzindo as seus correspondentes
séries de efeitos.(…) a nossa actual encarnação, com todas a suas condições, é
a árvore que cresceu a partir do que semeamos em encarnações passadas.”
A relação entre
astrologia e teosofia é um assunto que levanta acesas discussões,
principalmente por parte de alguns astrólogos, mas quem quiser saber o que HPB
escreveu sobre astrologia, pode adquirir um pequeno livro que compila o que
Blavatsky escreveu sobre o tema, chamado “Astrology of the Living Universe”, de
Henk J. Spierenburg.
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