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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Um breve apontamento sobre reencarnação


Hoje um conceito bastante popularizado, não há grandes certezas onde se terá originado a ideia de reencarnação. Sabe-se que na Grécia Antiga o tema era discutido, e provavelmente em tempos mais remotos, também na Índia se falava de reencarnação. O extraordinário livro de Sylvia Cranston "Reincarnation - The Phoenix Fire Mystery" fala de como aquele conceito está presente nas culturas mais antigas dos diferentes continentes e de como ele foi passando de geração em geração até aos dias de hoje. A reencarnação é um tema muito abrangente e muitas linhas gerará neste blog, mais ainda quando o juntarmos a todo o processo que ocorre entre duas vidas. Não podemos negar o papel da doutrina espírita, no reavivar do conceito na 2ª metade do séc. XIX. Remar contra os ditames do cristianismo foi algo de muito importante, em relação ao qual Kardec e seus seguidores merecem ser reconhecidos. Naquele tempo, a ideia de reencarnação conduziu muita gente, especialmente de parcos recursos, às fileiras do espiritismo. Era-lhes assim mais fácil compreender as agruras da vida e esperar que uma encarnação futura trouxesse uma vida mais feliz. Curiosamente, segundo Brian Weiss, foi o mesmo motivo que levou ao desaparecimento da reeencarnação do cristianismo. A pressão da mulher de um imperador romano, a quem lhe desagradava a ideia de um dia ter que trocar de posição com os seus servos, terá originado a negação da reencarnação dentro do cristianismo. Diz-se que muitos dos primeiros cristãos defenderiam a ideia (é importante ter presente a heterogeneidade dos primeiros grupos de cristãos, resultado da perseguição de que eram alvo, dentro do Imperio Romano). Como se sabe no Budismo e no Hinduísmo a reencarnação é parte integrante da doutrina.
A teosofia também tem a reencarnação como uma lei universal. Ao contrário do que acontece com "Ísis sem Véu", onde Blavatsky é relativamente económica a falar sobe o tema (e onde alguns apontam aparentes contradições, que são explicados por HPB aqui), na terceira proposição fundamental da "Doutrina Secreta" lemos: "A doutrina axial da Filosofia Esotérica não admite a outorga de privilégios nem de dons especiais ao homem, salvo aqueles que forem conquistados pelo próprio Ego com o esforço e mérito pessoal, ao longo de uma série de metempsicoses e reencarnações" (pp.84-85, da edição em português). Mais claro, não poderia estar.
A teosofia tem divergências em relação ao espiritismo em dois pontos fundamentais: no princípio reencarnante e no tempo entre encarnações. Para o espiritismo aquando da reencarnação não há diferença entre a personalidade e individualidade. No espiritismo também não há distinção entre alma e espírito e com a morte o homem perde apenas o corpo físico. A ligação entre o princípio superior e o corpo físico é estabelecido através do períspirito, um "substrato fluídico" que faz a intermediação da energia vital  Já para a teosofia, o que reencarna são os princípios superiores, pois além do corpo físico, outros princípios inferiores também estão destinados à decomposição no plano astral. Isto significa que além da morte física, existe uma segunda morte, que determina a separação do eu superior do princípio ligado aos desejos mais terrenos. Obviamente que neste post não se pretende ser muito concreto nem rigoroso sobre este ponto; para explicá-lo com mais detalhe será necessário no mínimo um post. Com certeza, voltaremos a este assunto. Relativamente ao período entre-vidas, no "Livro dos Espíritos" na resposta à questão 224a, fala-se de "poucas horas a intervalos mais ou menos longos". No entanto a noção prevalecente entre os espíritas é de um período entre encarnações não muito longo. Já na teosofia, Blavatsky em "A Chave para a Teosofia", falava de 1000 a 1500 anos (p.122 da edição em português), e William Quan Judge no cap. XIII de "Oceano da Teosofia", refere também 1500 anos. Contudo nas "Cartas dos Mahatmas" fala-se de 1000 a 3000 anos ou mais, o que não entra em contradição com os dois autores anteriores.
Alguns teosofistas têm como opinião que estes números serão mais adequados quando a população encarnada é muito menor que a presente. Os historiadores estimam que a população se tenha mantido relativamente estabilizada até ao início do séc. XVIIII (embora isso seja quase adivinhação, até se levarmos em conta as considerações feitas pelos Mestres sobre os conhecimentos dos nossos historiadores). A partir daí começou a subir vertiginosamente. De 600 milhões em 1700, somos hoje 7 mil milhões, ou seja, quase 12 vezes mais. Como não conheço dentro da teosofia original referência ao número de egos humanos ligados à esfera terrestre não é possível fazer grandes cálculos (embora há quem tenha tentado). Mas, a primeira ideia que nos ocorre é que se temos 7 mil milhões de encarnados, o tempo de entre vidas médio deverá ser menor. Provavelmente, este período que vivemos será mais a excepção que a regra, e portanto a população tenderá a regressar a números bem inferiores. Mas esta ideia é um pouco especulativa, não aparece na literatura teosófica. Alguns teosofistas, como a própria Sylvia Cranston, dão como referências do tema de reencarnação, pessoas como Brian Weiss, médico norte-americano que usa a terapia de regressão hipnótica como meio de cura e que por esta via obtém informações de vidas passadas dos seus pacientes. Este processo deu origem a uma série de livros que tornaram Weiss famoso. Ele afirma contudo, que não é a veracidade das histórias que interessa, mas a cura do paciente. Nas histórias dos pacientes de Weiss, os tempos entre vidas são curtos, especialmente nos últimos 1000 anos, onde nalguns casos existiram 3 encarnações. Aliás o repouso no Devachan (um estado de bem-aventurança dos Egos na maior parte do período entre-vidas) é até inexistente para os ocultistas que passam a fase de provação. Diz Blavatsky, referindo-se a estes: "...sua personalidade tem de desaparecer, e ele tem que se tornar uma força benéfica da Natureza. Depois disso, só há dois pólos opostos perante ele, duas sendas, e nenhum lugar intermediário para descanso. Ou ele, ascende trabalhando com afinco, degrau por degrau, geralmente através de numerosas encarnações e sem intervalo para repouso no Devachan à condição de Mahatma (a condição de Arhat ou Bodhisattva), - ou ele se permitirá escorregar escada abaixo ao primeiro passo dado em falso, e despencar até à condição de Dugpa..." (pp. 175-6 do artigo Ocultismo versus Artes Ocultas in Ocultismo Prático, Editora Teosófica, versão em inglês aqui).
O livro de Sylvia Cranston, citado no início do post, incompreensivelmente nunca traduzido para português, é uma obra única e que recomendo vivamente, a par de "Reincarnation-A New Horizon in Science, Religion, and Society".

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