Esta semana o Lua em Escorpião dá continuidade à tradução da discussão que teve lugar no fórum de internet Theosophy Nexus.
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Reigle
acrescenta que as suspeitas de o volume ser espúrio implicam desonestidade por
parte de Besant, uma acusação que ele considera grave quando se sabe que ela
foi “uma das pessoas mais honestas que se conhece”. Reigle vê na divisão
existente no movimento teosófico originada pelo caso Judge a origem destas
suspeitas. A opinião de Boris de Zirkoff -
um dos principais teosofistas do séc. XX – responsável pela edição dos Collected Writings, lançando dúvidas
sobre a honestidade do 3.º volume prevaleceu. Contudo, ele próprio fez muitas correções
ao trabalho de Blavatsky, nomeadamente retificando fontes e citações, sendo
igualmente vítima de críticas também por mexer no trabalho original de
Blavatsky. Reigle, porém, classifica o seu trabalho como exemplar.
Ele
cita também Besant, que apesar de considerar que o capítulo “O Mistério do
Buddha” contém vários erros, misturando o que é exotérico com o que é
esotérico, assegura que:
“Salvo a correção de erros gramaticais e a eliminação de
modismos de todo estranhos ao idioma inglês, os textos permanecem tais como
H.P.B. os deixou”. Por aqui, se vê, alega Reigle que Besant não tinha
inclinação para fazer alterações arbitrariamente.
Mais um documentário sobre Anie Besant
Reigle acrescenta que não foi o manuscrito de Würzburg que serviu de base para o volume III. Este manuscrito é uma parte de uma cópia feito a partir do manuscrito original de “A Doutrina Secreta” e que foi enviada para a Índia para correção por parte de Subba Row. Essa cópia foi enviada em partes, sendo que as restantes se perderam. Caldwell estima que o manuscrito que não desapareceu representa cerca de um terço da totalidade. A diferença na terminologia existente no manuscrito (de 1886) e o que consta no terceiro volume resulta do facto de HPB estar continuamente a fazer correções e alterações, mesmo depois da publicação ter ido para o prelo. Nas “Reminiscências de H.P. Blavatsky e de A Doutrina Secreta” da Condessa Wachtmeister poderá ser encontrada a descrição dos Keightley sobre o modo como foi escrita “A Doutrina Secreta”. Como já foi referido, em 2014 foi publicado o manuscrito de Würzburg pelas mãos de David e Nancy Reigle. O livro contém ainda o artigo “O Mito do terceiro volume da Doutrina Secreta” por Daniel Caldwell e uma cronologia, que existe também separadamente em livro.
Jon
Fergus, embora mantenha a sua posição, dá uma resposta exemplar, cheia de
sensatez, pondo em perspetiva toda a herança de Annie Besant, muitas vezes
denegrida injustamente.
Reigle
continua a juntar argumentos. Outro, bastante relevante, vem de uma comunicação
com data de 6 de dezembro de 1922, entre Bertram Keightley e Charles Blech, um
teosofista francês. Escreveu Keightley:
Reigle escreve assiduamente no blog "The Book of Dzyan" |
“(…)
Em primeiro lugar, o nosso amigo (neste caso particular, Chakravarti), não teve
de todo, nada a dizer, nem nada a ver com a segunda edição de A Doutrina
Secreta (chamada a edição de Besant), e foi mais o Senhor Mead do que a Senhora
Besant, que ficou encarregue dela.
Quanto
às pretensões de H.P.B. relativamente a volumes futuros – para além dos dois
publicados sob sua própria supervisão – todo
este material foi publicado no terceiro
volume, que contém absolutamente tudo
aquilo que H.P.B. deixou em manuscrito [citado em “The O.E. Library Critic,
4 de julho de 1923].
Isto
são factos. Mas tantas intrigas, fábulas e romances sobre a história passada da
ST têm circulado, que ninguém se consegue manter informado sobre elas.
Corrigi-las é simplesmente uma tarefa impossível e eu já desisti dela há muito
tempo.”
Blech
conclui:
“Por
mais que as suas paixões o encegueirem (…) não creio que os membros da S.T.
possam suspeitar do testemunho do Senhor Bertram Keightley.”
Quanto
ao argumento que o material do volume III parece mais fraco que o resto de “A
Doutrina Secreta”, Reigle escreve:
“As
estâncias de Dzyan são únicas. Nada se lhes compara. Mas as estâncias e os seus
comentários formam apenas um terço dos dois volumes de “A Doutrina Secreta”. Os
dois terços remanescentes, sobre simbolismo e comparações com a ciência
moderna, respetivamente, também não se comparam às secções sobre as estâncias.
Não vejo qualquer diferença entre estes dois terços dos volumes I e II e o
material do volume III.
Fergus adianta contudo que deverá se separar o
que foi publicado em vida, do que foi publicado postumamente.
Realce-se
que esta discussão decorre durante muitos dias em tom cordial. Nem sempre é
assim, como aconteceu quando se falou da publicação das Instruções Esotéricas,
um assunto que ainda haveremos de tratar no Lua em Escorpião. Na verdade, o
Nexus é avesso a discussões que reabram velhas feridas do movimento.
Teosofistas das várias tradições são membros da comunidade e a maior parte das
discussões é sobre o que H.P.B escreveu, não só na Doutrina Secreta, mas também
noutros livros.
Jon Fergus replica alegando que a
frase dos Keightley é bastante anterior à morte de HPB e que existe uma larga
distância entre o manuscrito de 1891 e a versão final do chamado terceiro
volume. Reconhece contudo que não é possível ter uma opinião definitiva e que
tudo se baseia em declarações de alguém e em conjeturas.
Archibald Keightley (em pé) acompanhado de outro teosofista razoavelmente conhecido e que irá apoiar Judge quando este rompeu relações com Besant e Olcott. |
Fergus não põe em causa a honestidade
de Besant que carateriza como alguém “bem-intencionado e corajoso”, mas duvida
que Mead lhe tenha dito que a intenção de publicar as Instruções Esotéricas
nesse volume era a de matar a Secção Esotérica. Portanto nalguns casos poderá
ter sido vítima das intenções dos outros e de ter sido influenciada. O
teosofista canadiano admite que a declaração de HPB de que o volume III estava
quase pronto poderia ter sido uma precipitação e e que só existiria um rascunho
que por essa razão, quando saiu, tinha muito pior qualidade que os volumes
anteriores, publicados durante a vida de HPB.
Reigle considera a declaração feita
por Bertram Keightley para o teosofista francês Charles Blech (já acima citada)
como definitiva.
Por outro lado, Reigle refere que quer
a edição de Mead (3.ª edição em inglês de 1893) e a de Josephine Ransom (edição
de Adyar de 1938, a partir da qual foi feita a tradução para português) são
excelentes trabalhos, contudo superados pela edição de Boris de Zirkoff que é
presentemente a versão publicada pela Sociedade de Adyar (em inglês, claro).
Edicão inglesa de "A Doutrina Secreta" de 1938 |
Até 1995 Reigle considerava que a
decisão de Adyar de retirar o volume III (ou seja os volumes V e VI da edição em língua portuguesa) de “A Doutrina Secreta” tinha
sido acertada, mas depois de ler o artigo de Daniel Caldwell “O mito do
terceiro volume perdido de A Doutrina Secreta”, Reigle defende a reposição do
volume III como material legítimo do conjunto de “A Doutrina Secreta”.
Continua na próxima semana.
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