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sábado, 6 de fevereiro de 2016

Joy Mills: Uma Jornada Evolutiva (2ª parte)

Na semana passada publicámos a 1ª parte da tradução deste texto que no fundo acaba por ser uma homenagem a Joy Mills, uma das figuras mais carismásticas do movimento teosófico da 2ª metade do século XX e que viria a falecer no final do ano passado, conforme dei conta oportunamente no meu perfil do Facebook.

Sendo isto uma história de vida, é imperioso ler a primeira parte da entrevista que Cynthia Overweg fez a Joy Mills e que foi publicada na revista da Sociedade Teosófica dos EUA, a Quest. Agradece-se a Richard Smoley, editor da referida revista, a autorização expressa para a publicação deste artigo.

Continuando... 

Quando Joy nasceu em Lakewood, Ohio, em 1920, o mundo ainda recuperava da devastação da 1ª Guerra Mundial e os EUA começavam a sua ascensão como potência económica e militar. As mulheres norte-americanas tinham finalmente ganho o direito ao voto, apenas dois meses antes do nascimento de Joy.


Joy Mills


O pai de Joy era um engenheiro e a mãe, professora. A sua vida inicial foi normal até que uma tragédia familiar virou tudo de pernas para o ar. Quando tinha oito anos, Joy foi confrontada com uma questão crucial: o que acontece depois da morte? A sua mãe, Mary Conger, morreu de ataque cardíaco fulminante aos 49 anos de idade. O seu pai transmitiu a triste notícia a Joy numa frase simples: “A mamã morreu”. Muito pouco foi dito entre pai e filha nesse dia devastador de maio de 1929. Enquanto Joy estava ajoelhada junto à cama da sua mãe, parecia-lhe que ela estava apenas a dormir, mas existia uma aceitação triste no ar. “Inclinei-me para beijar a sua face e ela estava fria. Foi a minha primeira impressão sobre a natureza temporária da vida física.”

A morte da sua mãe, recorda Joy, “espoletou uma necessidade de melhor entender o que significa ser humano. Aprendi que se matutarmos nessa questão tempo suficiente, uma questão mais profunda emerge e que está na raiz da nossa própria existência: “Quem sou eu?”

Não muito tempo depois da morte da sua mãe, Joy teve um vislumbre de como encontrar a resposta para esta questão. Estava visitando as montanhas Ozark, no Missouri, com os seus tios maternos e três primos. Um dia caminhou pelos bosques sozinha, sentindo uma ligação profunda com a natureza e um sentido de liberdade excitante. “Tive uma experiência naqueles bosques que alterou a minha perceção de vida”, disse Joy.

As Ozark são conhecidas pelos seus carvalhos e pelos cornus, juntamente com pinheiros que podem atingir mais de trinta metros de altura. Joy tinha caminhado durante algum tempo, absorvendo as imagens e sons da floresta. Subitamente viu-se perante uma árvore imponente. “Tornei-me consciente do poder e da vida naquela árvore. Então, tornei-me una com a árvore. Poderia ter deslizado para dentro dela.” Nesse instante, ela soube que a vida na árvore e a vida dentro dela eram a mesma vida. “A certo nível, mudou-me. É o que HPB chama de “contemplação direta”, uma perceção que muitas vezes é espontânea, com a perceção a se fazer a um nível mais profundo.”


Montanhas Ozark


Em outubro de 1929, cinco meses depois da morte da mãe de Joy, o catastrófico crash na bolsa de valores atinge Wall Street. Marcou o início na Grande Depressão e de uma década de turbulência económica que afetou milhões de famílias. Os tempos difíceis deram origem ao ponto de viragem mais difícil na juventude de Joy. O seu pai perdeu o trabalho de engenheiro e passava a maior parte do tempo à procura de trabalho. Assoberbado pelas circunstâncias e pelas exigências de ser pai solteiro, enviou Joy para viver com pessoas desconhecidas. “Eu fui entregue a uma família que vivia noutro bairro e apenas via o meu pai nos fins-de-semana. Tudo aquilo que me era familiar foi-me tirado, por isso reprimi os meus sentimentos e vivia nos meus livros. Eram o meu único refúgio.”

Dois anos mais tarde, quando o seu pai casou com uma mulher muito mais nova, ele tentou juntar-se novamente à filha, mas a madrasta de Joy abusava verbalmente dela e negligenciava-a. “Queria dizer ao meu pai, mas tinha medo do que pudesse acontecer e portanto aceitava”. O seu pai rapidamente percebeu que a reunião que imaginara não iria funcionar. “ Escutei-o a dizer aos meus tios paternos que me poderia pôr num convento”, recorda-se Joy. “Como alternativa, eles ofereceram-se para me adotar e ouvi o meu pai dar o seu consentimento. Eu estava a ser dada para adoção e isso realmente magoou.”

Uma vez legalmente adotada, Joy ficou com o sobrenome do seu pai adotivo e a criança que havia sido batizada como Mary Joy Conger tornou-se Joy Mills. Aos doze anos, a sua vida começou de novo com pessoas que cuidavam muito melhor dela. “Eu tive uma infância solitária e perturbada e nunca me senti querida. É claro que não sou a única a ter essa experiência. Mas estou grata por ter-me empurrado para o meu interior e forçado a me perguntar muitas questões sobre a vida. Alimentou o meu desejo de compreender porque é que há tanto sofrimento no mundo.”




Nessa altura Joy era uma adolescente, lia Aristóteles e Platão enquanto outros da mesma idade estavam nos jogos de futebol ou nos locais onde os jovens se encontravam. “Eu tinha uma amiga na escola que adorava discutir Filosofia. Preenchia um vazio.” À medida que foi amadurecendo, uma questão sobre o conceito de liberdade emergiu. Como criança, liberdade significava para ela ser capaz de pedalar a sua bicicleta ao ar livre com o sol a brilhar na sua cara. Liberdade também significava livrar-se do isolamento e da solidão.

“Mas vejo o mundo de forma diferente agora”, diz ela. “Quanto mais compreendemos a Unidade de todas as coisas, mais compreendemos que a liberdade é um tipo de ilusão. A única liberdade genuína e verdadeira é estar livre dos desejos do Eu separado. HPB refere-se a isso como a “peregrinação obrigatória da alma”. Está é a nossa jornada coletiva evolutiva.”

Continua na próxima semana.

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