No passado dia 29 de dezembro, foi anunciado o falecimento
de Joy Mills. Joy, que não é muito conhecida no meio teosófico de língua
portuguesa, era a decana do movimento teosófico – morreu aos 96 anos –
granjeando simpatias e respeito não só na Sociedade Teosófica de Adyar, à qual
pertencia, mas também noutras organizações. Para chegar a essa conclusão basta
escutar as palavras
que lhe dedicou Herman C. Vermeulen, o líder da Sociedade Teosófica de
Point Loma-Blavatskyhouse, na última Conferência Internacional de Teosofia. Joy escreveu vários livros, nenhum dos quais traduzido para língua portuguesa, e
viajou bastante, tendo passado pelo Brasil, como refere a entrada que lhe é
dedicada na Theosophy Wiki.
O texto de que hoje se publica a primeira de quatro partes,
resulta de uma entrevista conduzida pela jornalista, dramaturga e realizadora
de documentários Cynthia
Overweg. A entrevista a Joy Mills foi publicada
na revista da Sociedade Teosófica dos EUA, a Quest. Agradeço a Richard Smoley, editor da referida revista, a autorização expressa para a publicação deste artigo.
As várias revistas teosóficas prestaram ao longo dos
anos tributo aos teosofistas mais proeminentes do movimento aquando do seu
falecimento. Por exemplo, a revista
Fohat publicou vários obituários. Inicialmente, pensei colocar no blogue um
texto muito mais curto, à semelhança do que fiz quando
faleceu Radha Burnier. Mas, esta entrevista a Joy Mills, pareceu-me conter
vários elementos interessantes e importantes para o teosofista comum.
Joy Mills |
Avancemos então para a primeira parte da entrevista de
Cynthia Overweg a Joy Mills.
Joy Mills é uma escritora e instrutora muito estimada, que
desempenhou funções como presidente nacional das Secções norte-americana e
australiana e também como vice-presidente internacional da Sociedade Teosófica.
Foi fundamental na criação da Quest Books
[NT: cujo encerramento foi anunciado pelo atual presidente da Sociedade
Teosófica de Adyar na última
Convenção da Sociedade], a editora da Sociedade Teosófica nos EUA, tendo
viajado bastante pelo mundo dando palestras e seminários. Em janeiro de 2011,
foi-lhe atribuída a Medalha Subba Row, que é um reconhecimento de contribuições
notáveis para a literatura teosófica e sua compreensão. Depois de várias
semanas de entrevistas durante a primavera e verão de 2011, Joy partilhou
abertamente os altos e baixos da sua vida, na esperança que pudessem provocar
um sentimento de identificação com aqueles que procuram significado e
propósito. O texto seguinte foi urdido a partir de muitas tardes de diálogo
sobre a sua vida e trabalho, na sua casa no Instituto de Teosofia de Krotona em
Ojai, na Califórnia.
Ao viajar pelos sopés das montanhas do norte da Índia, a
beleza deslumbrante dos Himalaias ocidentais eram motivo de contemplação. As
montanhas ficavam magicamente iridescentes sob o sol do meio-dia, e ela mal
conseguia conter a excitação. Estávamos em 1972 e Joy Mills ia a caminho de
Dharamsala para se encontrar com Sua Santidade o Dalai Lama na sua residência de
exílio. Era uma grande honra para a Sociedade Teosófica e ela mal conseguia
acreditar na sua sorte.
O encontro era o resultado da ideia de Joy de publicar o
livro do Dalai Lama “Opening of the Wisdom-Eye”, que até então só estava
disponível no sul da Ásia. Acompanhando-a nesta viagem memorável estava a sua
boa amiga e colega, Helen Zahara, que era a editora sénior da Quest Books.
“Conseguimos os direitos de publicação do livro do Dalai Lama e como já
tínhamos uma viagem planeada para Adyar, a Helen e eu questionámo-nos se não
podíamos conhecer Sua Santidade”, recorda-se Joy. Fizeram os preparativos
através da Representação do Tibete em Nova Iorque, viajaram para Deli,
apanharam o comboio para norte e depois arranjaram um táxi para levá-las a
Dharamsala.
A relação entre Dalai Lama e a Sociedade Teosófica deu muitos frutos.
Aqui um video recente do Dalai Lama a participar num encontro
inter-religioso com o patrocínio da ST.
Quando chegaram à casa do Dalai Lama, mal tinham começado a organizar
as suas ideias, Sua Santidade saudou-as
com o que Joy descreve como “um belo sorriso”. Ela lembra-se que Helen
referiu que H.P. Blavatsky tinha apresentado o lado interno do Budismo ao mundo
ocidental. “O que escreveu ela?”, perguntou o Dalai Lama.
“A Voz do Silêncio”, respondeu Helen. Dirigindo a próxima
questão a Joy, ele perguntou, “Qual é a essência de “A Voz do Silêncio”?” Ao
início, Joy não conseguia pensar. Perguntou-se a si própria como poderia falar
do livro de um modo breve. “Bem”, – disse ela finalmente – “aborda os
Paramitas”, as seis “perfeições” do Budismo Mahayana. O Dalai Lama parecia
genuinamente entusiasmado. “Ah, então é autêntico. É verdadeiro”. Joy estava
emocionada por ter sido capaz de apresentar este pequeno grande livro de HPB ao
Dalai Lama, e este encontro é uma das suas memórias mais prezadas.
Joy tinha cinquenta e dois anos quando conheceu pela
primeira vez o Dalai Lama. Tem agora noventa e um [NT: à data da entrevista].
Não havia nada nos seus anos de formação que pudessem prever que um dia ela
chegaria à porta da residência do Dalai Lama, representando a Sociedade
Teosófica. Apesar de a sua vida ser rica em realizações e serviço, também se
confrontou com dificuldades e abandono. A estrada que em última instância a
conduziu à Teosofia e a um respeito profundo pelo Budismo, particularmente pela escola Dzogchen do Budismo Tibetano, começou quando ela era ainda
criança.
Continua na próxima semana.
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