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sábado, 18 de outubro de 2014

Quanto tempo leva para reencarnarmos?

O Lua em Escorpião traz hoje mais um texto do teosofista britânico da Loja Unida de Teosofistas (LUT) Matthew Webb, editor do site Blavatsky Theosophy. É o segundo texto que traduzimos deste autor e provavelmente no futuro outros se seguirão.

A tradução deste artigo para português é do meu ponto de vista especialmente relevante. A principal razão é a de que a interpretação da literatura teosófica sobre a duração do período entre-vidas produz uma série de equívocos. Alguns reproduzem os ensinamentos dos Mahatmas sem os contextualizar e criticam ferozmente quem se atreve a soltar um "mas". Outros teosofistas, que conhecem inclusive a investigação mais séria, nomeadamente aquela sobre as memórias espontâneas de vidas passadas (como a do o norte-americano Dr. Jim B. Tucker), e que usam o cérebro para refletir e não para papaguear literatura teosófica têm um certo receio mesmo assim em abrir um parêntesis face ao que está escrito.


Dr. Jim B. Tucker

Sendo Matthew Webb um teosofista pertencente a uma organização que normalmente é considerada como aquela que mais ferozmente defende a primazia da literatura dos fundadores do movimento, particularmente, a de Blavatsky e Judge, é surpreendente a forma clara e sem rodeios como Webb aborda o tema. Não concordo totalmente com a razão que apresenta para o aumento da população, mas isso não anulou o meu interesse em colocar o artigo neste blog.

Agradece-se uma vez mais a autorização dada por Matthew Webb, para a tradução deste texto. A colocação das imagens foi feita por mim.




Quando ocorre a reencarnação? Qual a duração do tempo que passamos no Devachan [NT: segundo o Glossário Teosófico é o estado intermediário entre duas vidas terrestres, que corresponde à ideia de Céu ou Paraíso, onde cada mónada individual vive num mundo que foi criado pelos seus próprios pensamentos e onde os produtos da sua própria ideação espiritual lhe aparecem substanciais e objetivos], antes de regressarmos ao plano físico para uma nova vida num novo corpo? Esta é uma questão interessante.

Em várias passagens da literatura teosófica é referido que em termos médios, a pessoa não reencarna habitualmente antes que aproximadamente 1000 a 1500 anos tenham passado, e que a alma pode até ficar no estado devachânico por vários milhares de anos antes de reencarnar. Isto foi dito pelo Mestre Koot Hoomi e pelo Mestre Morya nas “Cartas dos Mahatmas” e mais tarde repetido em vários escritos de H.P. Blavatsky, William Q. Judge, A.P. Sinnett e outros.


Mestre Morya

O período médio de 1000 a 1500 anos entre encarnações é infelizmente levado em conta por alguns teosofistas como uma regra estrita e aplicável em qualquer circunstância, mas não é esse o caso.

Os Mestres, HPB [NT:Helena Petrovna Blavatsky] e WQJ [NT: William Quan Judge] estavam sem dúvida certos ao dizer que este período muito longo era a média nessa altura - ou seja no final do século XIX – mas nunca disseram que isto seria assim para sempre e de facto Judge no seu livro “O Oceano de Teosofia” escreve especificamente sobre aquela duração como “o tempo que seria para o homem comum deste século em cada lugar.”


Portanto naquela altura da história do homem era esta a média, mas não existe qualquer razão para assumir que esta é ainda a média. De facto, o impressionante aumento de população ao longo do último século – com a população mundial a crescer quase 6 mil milhões em 120 anos! – é suficiente para indicar que aquela média não se aplica de modo algum e que muitas almas estão a reincarnar muito mais cedo e mais rapidamente hoje em dia do que há 100 anos.


A.P. Sinnett

Os Mestres declararam nas suas cartas que a reincarnação tem lugar mais cedo e muito rapidamente em casos onde a força de “tanha” ou “trishna” (termos sinónimos em Páli ou Sânscrito que significam “desejo de viver” ou “sede pela existência física material”, “desejo pela experiência sensorial e objetiva”, etc…) é forte ou prevalecente e onde a natureza espiritual do indivíduo está totalmente por desenvolver ou por despertar.

Parece que a razão principal para o aumento da população é o aumento de "tanha" e a diminuição de espiritualidade na vida humana, devido a muitos indivíduos se terem tornado presas do pensamento materialista e guiado pelos sentidos. Esta é a causa de reencarnação mais rápida para a maioria. Mais informação sobre isto poderá ser obtida através da leitura do artigo “A Right Understanding of Reincarnation”.

Como existem alguns teosofistas que insistem que o número de 1000-1500 anos deve ser aceite como uma regra ou como bitola para o século XXI, citamos aqui algumas passagens que mostram que a Teosofia efetivamente nunca se agarrou a uma perspetiva tão estrita e rígida nesta matéria como alguns são inclinados a pensar…


“E por quanto tempo? Este estado de beatitude espiritual dura anos? Décadas? Séculos? Anos, décadas, séculos e milénios, frequentemente multiplicados por alguma coisa mais. Tudo depende da duração do karma.”

-Mestre K.H, “Cartas dos Mahatmas”, p.305, vol. I, carta 68 (ed. port.)


Mestre Koot Hoomi


“A permanência no Devachan é proporcional aos impulsos psíquicos inacabados e originados na vida terrena: as pessoas cujas atrações foram preponderantemente materiais serão atraídas mais cedo de volta para o renascimento pela força de Tanha.”

-Mestre K.H, “Cartas dos Mahatmas”, p.191, vol. II, carta 104 (ed. port.)


Tanha é a sede pela vida. Aquele, portanto, que não originou em vida muitos impulsos psíquicos terá pouca base ou força na sua natureza essencial para manter os seus altos princípios no Devachan. Quase tudo o que terá serão aqueles originados na infância, antes que ele começasse a se dedicar a pensamentos materialistas... E esse tipo de pensador materialista pode emergir do Devachan num outro corpo num mês, cedendo às forças psíquicas não gastas originadas no início da vida. Mas como cada uma dessas pessoas varia quanto ao tipo, à intensidade e à quantidade de pensamentos e de impulsos psíquicos, cada uma pode variar em relação ao tempo de estada no Devachan.



“Quanto tempo o Ego reencarnante permanece no estado “devachânico”? Isso depende, dizem-nos, do grau de espiritualidade e do mérito ou demérito da última encarnação.”

- H.P. Blavatsky, A Chave para a Teosofia, p. 132 (ed. port.)


“Também se deve ter em mente que para cada ego varia a duração da permanência nos estados post-mortem. Eles não reencarnam no mesmo intervalo, mas voltam do estado após a morte em diferentes proporções.”




William Q. Judge

Isto é suficientemente conclusivo, especialmente a última citação, que resume todo o assunto. Mas o que dissemos acima não nega a probabilidade de algumas almas ainda passarem um período de tempo extremamente longo no Devachan, de muitas centenas ou até milhares de anos. Como diz HPB, tudo “depende do grau de espiritualidade e do mérito ou demérito da última encarnação”, ou seja, da quantidade ou da força de karma positivo que foi acumulado pelo indivíduo durante a vida que acabou de terminar. A Lei do Karma assim o determina, como em todas as coisas. Tudo resulta de um destino criado por nós próprios.

Como demonstra a pesquisa competente por parte de investigadores, a vasta maioria dos indivíduos que se recordam com exatidão dos detalhes da vida passada apenas passou alguns anos numa condição intercalar (a que os teosofistas chamam de Devachan). Alguns tentaram usar isto como prova ou evidência de que as almas reencarnam sempre apenas depois de alguns anos.


H.P. Blavatsky


Mas isto nada prova. A razão pela qual são os que passaram apenas alguns anos no estado devachânico aqueles que se recordam corretamente de detalhes verificáveis da sua vida passada, é precisamente porque os que lá passaram um longo período teriam menor possibilidade de se lembrar de alguma coisa da vida anterior, ou pelo menos teriam menos hipóteses de se recordar de algo de forma clara, precisa ou com detalhes específicos. Portanto, almas que tenham estado no estado devachânico durante séculos ou mesmo milénios teriam obviamente muito menos possibilidades de se recordar de detalhes da sua vida anterior depois de reencarnarem, pois os eventos e acontecimentos da aquela vida anterior teriam acontecido há muito tempo.

A possibilidade de as almas despenderem um tempo muito longo entre encarnações não é portanto invalidado de modo algum por toda a investigação moderna sobre reencarnação.

“Quanto à lógica, consistência, filosofia profunda, misericórdia divina e equidade, esta doutrina da reencarnação não tem comparação sobre a Terra. É uma crença num perpétuo progresso de cada Ego encarnante, ou alma divina, numa evolução do exterior para o interior, do material para o espiritual, chegando ao fim de cada estágio à unidade absoluta com o princípio divino. De uma força a outra força, da beleza e perfeição de um plano para maior beleza e perfeição do outro, com acessos a uma nova glória, a um novo conhecimento e poder em cada ciclo – tal é o destino de todo o Ego, que assim torna-se o seu próprio Salvador em cada mundo e encarnação.” 

– H.P. Blavatsky “A Chave para a Teosofia”, p.140, ed. port.

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