Face à cultura instalada não é fácil falar abertamente sobre
filosofia esotérica sem se ficar com receio de ser olhado de lado. A
resistência a ideias que os interlocutores com grande probabilidade
considerarão estranhas, demove grande parte dos teosofistas de falar de
Teosofia sem ser no círculo restrito que partilha esse mesmo interesse.
Contudo, para aqueles que tentam popularizar a Sabedoria
Eterna em ambientes hostis, uma das estratégias é ligar a Teosofia à Ciência.
Contudo, para fazê-lo de modo correto e especialmente perante pessoas que têm
bom domínio dos meandros da Ciência, é necessário conhecimento sólido sobre ambas
as coisas: Teosofia e Ciência. Mas, sejamos francos: teosofistas desse calibre
há muito poucos. E aqui não me refiro apenas ao mundo de língua portuguesa, mas
em termos gerais. Assim, a maior parte dos teosofistas, o máximo que consegue
fazer é partilhar referências soltas: artigos sobre Experiências de Quase
Morte, algum aspeto cosmológico que parece comprovar algum ponto da Cosmogénese
da Doutrina Secreta ou citar alguém famoso que se interessou pela Teosofia.
Caso a escolha recaia na última opção, parece haver um
argumento de peso: o interesse de Albert Einstein em “A
Doutrina Secreta”. Mas será que esse interesse foi verdadeiro?
Albert Einstein (1879-1955) |
O famoso cientista nascido na Alemanha é apontado por muitos
teosofistas como se tendo inspirado em “A Doutrina Secreta” de Helena
Blavatsky.
Isto mesmo é descrito na p.474 da edição em língua
portuguesa da biografia mais conhecida da Velha Senhora, “Helena Blavatsky – A
Vida e a Influência Extraordinária da Fundadora do Movimento Teosófico Moderno”,
da autoria de Sylvia
Cranston que escreve:
“Como foi indicado no prefácio deste livro, um certo número
de cientistas tem-se interessado por “A Doutrina Secreta”. De acordo com uma
sobrinha sua, Einstein tinha sempre uma cópia dessa obra na sua mesa de
trabalho.” Nas notas no final do livro, Cranston especula sobre como poderia
Einstein ter entrado em contacto com a magnum
opus de Blavatsky. Robert Millikan,
presidente do comité executivo da Cal Tech, onde Einstein trabalhou antes de
aceitar um lugar em Princeton, poderá ter sido quem deu a conhecer Blavatsky ao
mais famoso cientista de todos os tempos. Millikan estava profundamente
interessado em “A Doutrina Secreta”.
Sylvia Cranston |
Outra pessoa pode ter sido Gustav Stromberg, um astrofísico
do Observatório Mount Wilson, em Los Angeles, com quem Einstein trabalhou.
Stromberg chegou a visitar a Sociedade Teosófica de Point Loma e a lá dar uma
palestra. Também escreveu a introdução de um livro sobre astronomia de dois
teosofistas de Point Loma (ver p. 652 op.cit.).
Mas, as informações dadas por Cranston têm uma deficiência…
Einstein não tinha sobrinhas.
Cranston que era reconhecidamente rigorosa e meticulosa
parece ter confiado no testemunho oral que recebeu e não confirmou a história.
Há quatro anos um grupo de teosofistas juntou-se para debater
o assunto pela internet. A plataforma usada foi a comunidade Theosophy.net que
com o passar dos anos degenerou e passou a ser uma fonte de ataque permanente à
Teosofia moderna e a Helena Blavatsky em particular. Sob a influência de um tal
John E. Mead e com o apoio do administrador da comunidade, Joe Fulton, os
ataques foram de tal ordem que vários teosofistas foram banidos e outros
retiraram-se voluntariamente. Tenho na minha posse um resenha feita por um
conhecido teosofista dos piores ataques dirigidos a Blavatsky no referido site e é realmente indescritível o
tratamento dado à fundadora do movimento teosófico moderno. O theosophy.net é
pois hoje em dia uma caricatura do que já foi e excluindo alguns recursos úteis
(leia-se literatura online) nada mais tem para oferecer. Na verdade, a discussão
a que vou aludir daqui em diante já não está disponível e é uma sorte tê-la copiado em
tempos e guardado em ficheiro.
Joe Fulton |
Do que efetivamente disponho é da discussão à volta das
conclusões finais. A cópia também poderá não conter todas as opiniões, pois
alguns teosofistas descontentes com o rumo do site apagaram o seu registo e com isso todos os seus posts. Contudo, o material que vou
apresentar parece-me suficiente.
No referido grupo de teosofistas estão nomes como Daniel
Caldwell (responsável pelo principal portal sobre HPB, o Blavatsky
Study Center), Jerry Hejka-Ekins (bem conhecido no meio, agora envolvido no
projeto FOTA para preservação da
literatura teosófica), Leon
Maurer (que estudou profundamente “A
Doutrina Secreta” e estabeleceu pontes com a Física moderna, até à sua morte em
2011, aos 86 anos de idade), e David Reigle (sanscritista e que já publicou
alguns livros importantes, o último dos quais foi o manuscrito
de Wurzburg).
Jerry Hejka-Ekins |
Maurer não tem dúvidas em considerar que a base para a
teoria da relatividade, bem como para a natureza quântica da luz, foi o livro
de Dzyan e “A Doutrina Secreta” de HPB.
A sua convicção foi despertada pelo físico Richard Feynman
que na revista Time disse “Não consigo entender como ele [Einstein] intuiu que
E=mc2, tendo em conta o nível de conhecimento científico na altura
[1905].” Maurer escreveu a Feynman, mas nunca recebeu resposta.
O teosofista norte-americano acrescenta que Blavatsky deixou
claro que energia e massa eram equivalentes e que a sua relação era
estabelecida com base na velocidade da luz (daí a famosa equação E=mc2).
Ele acrescenta que inicialmente (no primeiro artigo que Einstein escreveu sobre
o tema) a teoria não tinha suporte matemático, algo que só veio acontecer mais
tarde, sendo mais uma pista que a inspiração foi “A Doutrina Secreta”.
Existem duas histórias com respeito a Einstein: uma, a de
que foi um ávido leitor de “A Doutrina Secreta” e outra que acrescenta que a
sua cópia desse livro foi depositada numa Biblioteca de uma organização
teosófica, ou na Sociedade Teosófica de Adyar, ou na da Loja Unida de
Teosofistas, neste caso em Bombaim.
São esses dois relatos que vamos analisar em pormenor na 2ª
parte, a publicar de hoje a uma semana.
ResponderEliminaralguns relatos de Leadbeater, além dos pontos mencionados nesta abordagem, apontam que, a forma como o ser é individualizado influi no período entre uma encarnação e outra