Numa carta de KH para Laura C. Holloway datada de finais de
agosto de 1884, o Mahatma escreve:
Laura C. Holloway-Langford (1843-1930) |
“Você não pode adquirir poder psíquico antes que as causas
da fragilidade psíquica sejam removidas. Você aprendeu mal os elementos de
autocontrolo psicológico; a sua forte imaginação criativa evoca criaturas
ilusórias, surgidas no instante anterior por invenção da sua mente, sem que
você mesmo o saiba. Até agora você não descobriu o método exato de discernir o
falso do verdadeiro, porque ainda não compreendeu a doutrina das cascas. [esta
parte encontra-se nas p.145 e 146 da edição em português das “Cartas dos
Mestres de Sabedoria”, a partir daqui a tradução é minha] Seja como for não é o
emocionalismo irracional que pode eliminar um facto da Natureza. O seu ex-amigo
é uma casca e mais perigoso para você que outras dez cascas, pois o sentimento
dele por você era intenso e terreno. O pouco da espiritualidade dele está agora
no Devachan [um estado de bem-aventurança dos Egos na maior parte do período
entre-vidas] e no Kama-loka apenas a escória que em vão ele tentou reprimir. E
agora oiça e lembre-se:
Quer você faça sessões para os seus amigos na América ou em
Londres como médium - embora você agora odeie a palavra – ou vidente ou
reveladora, dado que mal aprendeu os elementos de autocontrolo em
psiquismo, você deve sofrer más consequências. Você atrai para si as
influências mais próximas e fortes – muitas vezes más – e absorve-as, ficando
psiquicamente sufocada e drogada por elas. O ar fica cheio de fantasmas
ressuscitados.
Eles dão-lhe falsas indicações, revelações enganadoras e
imagens enganosas. A sua vívida fantasia criativa evoca gurus e chelas
ilusórios e põe na boca deles palavras gravadas um instante antes na sua mente,
sem você se aperceber. O falso parece como real, como o verdadeiro e você não
tem nenhum método exato de deteção, pois você está ainda inclinada a obrigar as
suas comunicações a estarem de acordo com os suas ideias preconcebidas. O Sr.
Sinnett atraiu para si, inconscientemente e contra a sua vontade, uma nuvem de
elementários cujo poder é tal sobre ele tornando-o miseravelmente infeliz e
abalando a sua constância. Ele está efetivamente em perigo de perder tudo
aquilo que ganhou, e de cortar a ligação comigo para sempre...”
Sobre os
andarilhos terrestres
O mestre K.H. escreveu sobre este assunto com algum detalhe
e menciona o destino dos “andarilhos terrestres”:
“A regra é que uma pessoa que tenha uma morte natural
permaneça “desde algumas horas até uns poucos anos” dentro da atração da Terra,
isto é, no Kama-loka. Mas há exceções, no caso dos suicidas e daqueles que têm
uma morte violenta em geral.
Consequentemente um destes Egos, por exemplo, que estivesse
destinado a viver, digamos 80 ou 90 anos, mas que se matou ou foi morto por
acidente, vamos supor, aos 20 anos – teria que passar no Kama-loka não “alguns
anos”, mas neste caso 60 ou 70 anos, como um Elementário, ou mais precisamente
um “andarilho terrestre”, já que ele não é, infelizmente para ele, nem mesmo
uma “casca”.”(Carta dos Mahatmas para A.P. Sinett, vol I, carta 68, p.312-3)
Na mesma carta KH (p.308) já tinha referido:
“(…) os suicidas e os mortos em acidentes (…) são uma
exceção à regra, pois terão de permanecer dentro da atração da Terra e na sua
atmosfera – o Kama-loka – até o exato último momento do que teria sido a
duração natural das suas vidas. Em outras palavras, aquela onda particular de
vida-em-evolução deve prosseguir até à sua praia. Mas é um pecado e uma
crueldade reviver a sua memória e intensificar o seu sofrimento dando-lhes a
possibilidade de viver uma vida artificial; uma possibilidade de sobrecarregar
o seu carma, ao colocar diante deles a tentação de portas abertas, isto é,
médiuns e sensitivos (…)”
Sobre as egrégoras
O mestre KH escreve o seguinte sobre as formas-pensamento:
“…cada pensamento do homem , ao ser produzido, passa ao
mundo interno e torna-se uma entidade ativa associando-se - amalgamando-se,
poderíamos dizer – com um elemental, isto é, com uma das forças
semi-inteligentes dos reinos. Ele sobrevive como uma inteligência ativa – uma
criatura gerada pela mente por um período mais curto ou mais longo,
proporcionalmente à intensidade da ação cerebral que o gerou. Desse modo, um
bom pensamento é perpetuado como força ativa e benéfica, um mau pensamento como
um demónio maléfico. Assim o homem está constantemente ocupando sua corrente no
espaço com o seu próprio mundo, um mundo povoado com a prole das suas
fantasias, desejos, impulsos e paixões (…)” (op.cit, vol. II, 1ª carta para A. O. Hume,p.343)
Allan Octavian Hume (1829-1912) |
Noutro lado (op.cit, vol. I, carta 18, p.125) KH escreve:
“As noções de infernos, purgatórios, paraísos e
ressurreições são todas ecos distorcidos e caricaturais da Verdade primordial e
única, ensinada à Humanidade na infância das suas raças por cada Primeiro
Mensageiro – o Espírito Planetário (…) e cuja lembrança permaneceu na memória
do homem como o Elu dos caldeus, o Osíris do Egito, como Vishnu, os primeiros
Budas e assim por diante.
O mundo inferior dos efeitos é a esfera destes pensamentos
distorcidos; das conceções e representações mais sensuais; de divindades
antropomórficas, projeções dos seus criadores, isto é, as mentes humanas
sensuais de pessoas que jamais superam a sua animalidade na Terra. Lembrando
que os pensamentos são coisas – têm resistência, coerência e vida -, e que eles
são entidades reais, o resto ficará claro.
Desencarnado, o criador é atraído
naturalmente para a sua criação e criaturas; sugado pelo Maelstrom que ele
mesmo produziu…”
E numa carta de HPB (op.cit., vol.I, carta 30, p.166) esta cita o
mestre Morya sobre formas-pensamento coletivas:
Helena P. Blavatsky |
“A fé em Deuses ou em Deus e outras superstições atraem
milhões de influências alheias, entidades vivas e poderosos agentes para perto
das pessoas (…) planetários atrasados deliciam-se personificando deuses e, às
vezes, personagens famosos que viveram na Terra. Existem Dhyan-Chohans [de
acordo com o Glossário Teosófico são devas, ou deuses mais elevados, que correspondem
aos Arcanjos da religião católica-romana], e “Chohans das Trevas”, não o que
eles chamam de diabos, mas “Inteligências” imperfeitas que nunca nasceram nesta
ou em qualquer outra terra ou esfera, tanto quanto os “Dhyan-Chohans”, e que
nunca farão parte dos “construtores do Universo”, as Inteligências Planetárias
puras que presidem cada Manvantara [período de manifestação], enquanto que os
Chohans das Trevas presidem aos Pralayas [período de obscuridade ou repouso].
(…) tudo neste Universo é contraste (…) assim também a luz
dos Dhyan Chohans e a sua inteligência pura é contrastada pelos “Ma-Mo Chohans”
– e a sua inteligência destrutiva. Esses são os deuses que hindus, cristãos,
maometanos e todos os demais integrantes de religiões e seitas intolerantes
fanáticas adoram.”
Arthur W.Osborn reúne de forma apropriada muito do que está acima exposto no seguinte excerto sobre visões de Deus por parte de devotos como formas-pensamento coletivas:
“Imagens do Supremo, embora tomadas como definitivas pelos
simples devotos, são mais rapidamente explicáveis como projeções, sejam
individuais ou coletivas, ou credos doutrinais relativos a Krishna, Cristo,
Kali ou outros aspetos pessoais da Divindade. Nós dizemos projeções “coletivas”
porque qualquer símbolo religioso, que talvez durante séculos tenha sido foco
de devoção, pode assumir uma realidade concreta. O ocultismo fornece alguns
exemplos marcantes da força do pensamento coletiva na criação de
formas-pensamento de suficiente intensidade para se tornarem objetos
percecionados. Centros de energia parecem se ter formado nalgum plano
suprafísico capaz de exercer influência no meio físico…” (The Cosmic Womb,
p.59).
Nos vários livros referidos neste texto (e não só) poderá o leitor descobrir mais sobre este tema. Para melhor perceber o fenómeno das cascas e dos andarilhos terrestres recomendam-se os livros de Geoffrey Farthing: "When we Die" e "After Death Consciousness and Processes" .
Geoffrey Farting (1909-2004) |
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