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sexta-feira, 23 de março de 2012

O perigo do fascínio


A Teosofia trata de uma vastidão de temas. Pegando somente nos escritos deixados por HPB, encontraremos assuntos tão variados como karma, reencarnação, cabala, astrologia, cosmogonia, biografias de iniciados, milhentas referências a diferentes religiões, etc, etc...

Mas um dos temas que maior fascínio traz aos mais curiosos é o da antropogénese, em particular a evolução do homem na Terra. Como se sabe, os ensinamentos teosóficos sobre esta matéria estão muito distantes do que argumenta a Ciência. De acordo com HPB, que se apoia na sabedoria eterna, a presente raça (um conceito que nada tem a ver com concepções de visões políticas fundamentalistas características do século XX) é a quinta, sucedendo à raça atlante que por sua vez sucedeu à lemuriana. Depois da presente raça suceder-se-ão mais duas,  após o que terminará a Ronda actual. Para não gerar muita confusão neste post, não farei considerações sobre cronologia, nem sobre outras divisões (como as sub-raças e as famílias). O propósito é na verdade outro. Como atrás referi este tema é fascinante, tão fascinante que existiu e existe uma grande obsessão em captar imagens do período atlante. HPB deixou alguns pormenores mas não foi muito detalhada. Do ponto de vista de um teosofista será suficiente compreender que esta é mais uma prova da lei dos ciclos, que tudo tem um início e um fim e que o período Atlante é marcado por uma época onde se atingiu o ápice da materialidade. A partir desse ponto dá-se a ascensão para o espírito e há uma desmaterialização, em relação ao qual a fase presente que vivemos é bem elucidativa com a evolução da electrónica e da informática.

Pouco tempo depois de HPB falecer, começaram as revelações provenientes do plano astral (?) sobre a Atlântida, algumas também patrocinadas pelo bispo da Igreja Católica Liberal, Charles Webster Leadbeater. Um dos livros mais famosos sobre este tema foi escrito por William Scott-Elliot e chama-se “A História da Atlântida” (1896). Mais tarde o mesmo teosofista editaria “A Lemúria perdida” (1904). Os livros foram condensados num só volume publicado em 1925 e têm um sem número de detalhes não referenciados por HPB. Scott-Elliot recebeu os contributos da clarividência astral de Leadbeater, o que já à partida merece reservas. A partir daqui muitas outras obras sobre o tema se geraram no meio teosófico e não só. Um exemplo recente de um livro em português é “A Atlântida e a Verdade (re)velada”, de José Manuel Freire publicado em 2007 pela Editora Zéfiro e prefaciado por José Manuel Anacleto, presidente do Centro Lusitano de Unificação Cultural (CLUC).

Muitas vezes é apenas a mera curiosidade que leva à procura de mais e mais detalhes sobre estes tempos remotos e há as mais variadas teorias, algumas absurdas sobre a civilização atlante. Perdidos neste tipo de detalhes, a tentação da procura pode ser insaciável. Ao agir desta maneira, perde-se naturalmente o foco no mais importante. 

sábado, 17 de março de 2012

Per me caeci vident


“Através de mim vêem os cegos”. Assim diz a frase por baixo do ecrã de TV. São breves segundos num vídeo extraordinário, cheio de metáforas e críticas implícitas ao mundo moderno, piscando também o olho às teorias de conspiração. O vídeo é “Eat Raw Meat=Blood Drool” e pertence à banda britânica “The Editors”. Não sei se o elogio deva ser dirigido à banda se ao realizador e argumentista do vídeo, o certo é que o mesmo é um fruto do qual se pode extrair muito sumo.






São evidentes às alusões ao facto de vivermos numa sociedade onde a manipulação é quem mais ordena. São os políticos que funcionam como peões dos barões do sistema económico-financeiro, fingindo que tomam decisões em favor da maior parte da sociedade quando simplesmente executam uma agenda que lhes é imposta (no video representados pelas marionetas que as aranhas manipulam). São as televisões que alimentam o alheamento e estupidificam a sociedade, enaltecendo a importância do aspecto físico. É todo um ser humano que é formatado para ser inserido num sistema que não quer que ele pense. Esta negação da potencialidade do Homem é anti-teosófica e neste sentido este vídeo é um manifesto contra o actual estado de coisas. Muitos podem achar a música “muito moderna“ e até desagradável. Se assim for, baixem o som e vejam só o vídeo.


Mais um parágrafo adicional sobre a questão da TV. Esta pode ser aproveitada como veículo de aprendizagem. Há bons programas, bons documentários e bons filmes. Alguns podem mesmo ajudar a expandir a nossa consciência. Mas normalmente quem sabe usar a TV em seu proveito são aqueles que já não querem andar ao sabor das modas e das tendências e que “tomaram conta da sua vida”, ou seja, que usam o livre-arbítrio de forma consciente e com o propósito de evoluir.


As críticas à TV – que se podem estender também à imprensa escrita – são frequentes nos meios espirituais sérios. Aqui, podem ler um violento texto de Carlos Cardoso Aveline e aqui um audio em inglês do pensador canadiano Manly Palmer Hall que deve ser escutado com atenção.

sexta-feira, 9 de março de 2012

A importância dos planetas no ser humano


Muito recentemente tive oportunidade de ouvir uma interessante conferência que abordava a relação entre Astrologia e alguns princípios da Teosofia. A conferência realizou-se nas instalações da Loja Unida de Teosofistas de Bangalore (Índia),  subordinada ao tema “Influências planetárias e o destino do ser humano”. Sublinhe-se que as Lojas que são responsáveis pelo site www.ultindia.org, produzem um trabalho teosófico altamente meritório, alojando aquele endereço electrónico um grande número de publicações, conferências e ainda uma revista mensal de grande qualidade chamada “The Theosophical Movement”. Tudo isto está disponível de forma gratuita.

Mas o tema deste post é mesmo a conferência acima mencionada. Com uma duração próxima de 50 minutos, recomendo a sua audição na íntegra. Mas para aqueles que não puderem ou não o quiserem fazer, sumarizo por pontos as ideias transmitidas pelo palestrante.

* Várias civilizações usaram diferentes formas de divinação como meio de previsão. A Astrologia é uma delas e existem diferenças entre a Astrologia védica (que é a mais praticada na Índia), a chinesa e a ocidental, por exemplo.

* Existem, como se sabe vários tipos de Astrologia: natal, mundana (para nações, guerras, etc..), atmosférica, horária, etc... Todo o universo está ligado.Em  “A Chave para a Teosofia”, Blavatsky diz que a Astrologia é apenas um ramo do ocultismo. Tem regras bem definidas na qual assenta. Em “Isis sem Véu”, HPB refere que a Astrologia é tão infalível como a Astronomia, mas quem a interpreta tem de ser também infalível. A Psicologia está para a Fisiologia, como a Astrologia para a Astronomia.

* As combinações são imensas entre posições e aspectos dos planetas num horóscopo, pelo que é difícil encontrar dois mapas iguais.

* Todo o processo de transformação do centro de energia da formação do mundo está ligado ao karma.

* Não são os planetas que trazem os problemas, mas sim nós próprios. É apenas o karma cumulativo que geramos nas nossas vidas anteriores e na nossa vida presente. Não temos que nos submeter aos planetas, nem tentar fazer magias e ofertórios.

* Conhecimento arcano mal usado é feitiçaria, bem usado é magia branca. A posição dos planetas é como um relógio, apenas indica as horas. Os planetas não nos controlam.

* O astrólogo pode apenas prever o resultado agregado que resulta das combinações e fazer previsões de forma vaga.

* O karma é uma lei que tenta restaurar o equilíbrio. Assim, um ritual para atenuar os efeitos de um mau aspecto, provavelmente poderá dar maus resultado. O Karma não está sujeito ao tempo.

* Se não houvesse karma, não haveria estrelas, dizia William Quan Judge.

* As previsões astrológicas podem criar ansiedade. Recomenda-se a tranquilidade, baseada na aceitação da lei do karma. Venha o que vier, é o karma.

* Astrologia é uma ciência perfeita, matemática. Dá-nos a forma como nos devemos guiar para a vida seguinte. Somos os criadores do nosso próprio destino e não há ritual que mude isso.  Há que tomar responsabilidades das nossas acções e pensamentos, e afastar o medo, pois isso é o primeiro sinal que desconfiamos da lei do karma.

Alguns astrólogos são bastante críticos da influência da Teosofia como suporte para explicar porque a Velha Arte funciona. Esquecem-se do papel que a Teosofia teve no reavivar deste ramo do ocultismo que atravessou moribundo praticamente todo o século XIX. Será discutível assegurar que o que Blavatsky deixou escrito sobre Astrologia (e que pode ser encontrado numa compilação com anotações da responsabilidade de Henk J. Spierenburg, denominada "Astrology of a Living Universe)" é suficiente para criar um corpo teórico que sirva de fundamentação à Astrologia. 

À medida que aprofundo os meus conhecimentos na Velha Arte, vou meditando sobre o assunto e espero um dia encontrar uma resposta a esta questão.




sábado, 3 de março de 2012

Algumas luzes sobre Astrologia pela mão de Demetra George


A astróloga norte-americana Demetra George é estudiosa da Velha Arte há mais de 35 anos, e especializou-se em mitologia dos arquétipos e técnicas antigas. É também professora do Kepler College (uma Faculdade localizada em Seattle, nos EUA, dedicada à Astrologia) e na Universidade do Oregon.
Em 2008, Demetra publicou o livro “Astrology and the Authentic Self” (A Astrologia e o Eu Autêntico) onde tenta juntar as técnicas da astrologia medieval com algumas técnicas mais recentes, como seja o uso dos asteroides, inserindo também alguns conceitos provenientes da astrologia psicológica. É por isso um livro extremamente interessante. Neste post colocarei dois excertos que são simples, concisos, mas cheios de conteúdo, abrindo o apetite a quem se interessa por esta área. O livro, como a maior parte dos (bons) livros mais recentes de astrologia, não se encontra traduzido para português.

No prólogo, Demetra George diz qual a sua visão da astrologia: “A premissa filosófica que subjaz e influencia todas as técnicas de cariz prático descritas neste livro é a de que vivemos num cosmos consciente que é permeado por uma inteligência criativa e uma ordem intrínseca. Toda a vida tem um propósito dentro de um todo maior. A Astrologia é um meio pelo qual se pode discernir este propósito. O mapa natal é construído para facilitar a vivência desse propósito, que é muitas vezes a resposta mais natural e instintiva de um indivíduo, e que traz um sentido para a vida quotidiana. O mapa natal descreve as condições do karma ou destino com o qual nascemos, mas é a nossa resposta ao nosso destino que molda esse destino. E em circunstâncias excepcionais, a Graça Divina existe.” (p.10)

Na introdução, Demetra George resume a sua metodologia de análise do mapa natal. Diz esta astróloga: “Eu sou de opinião que as posições e os estados do Ascendente e do seu regente, do Sol e da Lua estabelecem  o quadro básico do mapa no qual o sentido básico do propósito de vida pode ser percebido. O todo do sentido da vida está encapsulado nestes quatro factores, conjuntamente com a rede de interrelacionamentos de outros planetas e asteróides ligados a estes pontos. O procedimento é muito simples, pois foca-se na avaliação de apenas quatro factores primários. Contudo, as regras para avaliar estes factores são abrangentes e detalhadas.
Neste modelo, o Sol significa a intenção da alma e o conteúdo do propósito de vida. A Lua representa o corpo que dá vida à alma, os sentidos pelos quais nós percebemos o mundo, e o meio prático pelo qual podemos actualizar o nosso propósito. O Ascendente e o seu regente apontam para aquilo que motiva a alma para a acção e para o tema que orienta a vida.” (p.15)

Penso que estas citações do livro de Demetra George merecem uma reflexão atenta por parte do estudante de Astrologia.  No primeiro excerto, temos uma definição da autora do que é a Velha Arte, e a sua visão resumida da dicotomia destino/livre-arbítrio.  O segundo excerto é um convite a controlar o perigo de dispersão que advém do excesso de informação no mapa, o que às vezes confunde o estudante, quando este se prepara para ler o horóscopo. Partir para uma análise usando de início o Sol, a Lua, o Ascendente e o seu regente é sem dúvida um meio seguro de traçar o quadro geral das características da personalidade do indivíduo.