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sábado, 26 de março de 2016

Como provar a Teosofia? - H.P. Blavatsky e os seus sucessores (2ª parte)

Na semana passada, iniciámos a publicação do artigo da revista Lucifer "Como provar a Teosofia? - H.P. Blavatsky e os seus sucessores". Esta revista é publicada pela Sociedade Teosófica de Point Loma-Blavatsky House em holandês (desde 1979) e em inglês (neste caso desde 2013).

A autoria do artigo é de Barend Voorham e de Herman C. Vermeulen. Recomenda-se a leitura da introdução e também da 1ª parte.

Barend Voorham- um dos autores deste artigo

Avancemos então para a 2ª parte do artigo.

Crença – sentimentos interiores

Pode a convicção ser baseada na crença?

Crer é aceitar a verdade sobre algo com base na autoridade de alguém. Assume-se que alguém tem tanto conhecimento, ou é tão sábio, que o que diz é verdade. Isto pode aplicar-se a qualquer coisa. Há a autoridade religiosa. Há a autoridade do Estado. Os pais ou os professores têm uma certa autoridade, e assim sucessivamente.

Ao terem esta crença, algumas pessoas podem ficar muito satisfeitas porque isso priva-as da sua responsabilidade. É delegada a outrem. É verdade, dizem elas, porque fulano tal assim disse. Ele comprovou que era verdade.

Obviamente que esta é a maneira mais passiva de lidar com os assuntos.

Os aspetos inferiores da mente estão agora ativos e encontram-se satisfeitos, o que pode conferir um certo grau de convicção.


As leis de Newton – um exemplo

Vamos ilustrar estes três aspetos de evidência aplicando as leis de Newton.


Sir Isaac Newton (1643-1727)

A descoberta por Newton das três leis fundamentais da natureza foi o início de uma nova fase na ciência. Estas leis são geralmente aceites como verdadeiras. São ensinadas nas escolas e universidades. Mas a questão é: com que base presumimos que essas leis da natureza são verdadeiras? De acordo com estas leis todos os objetos exercem uma atração mútua. Podemos ver claramente que todos os objetos caem na terra. Toda a gente experiencia a gravidade. Todos podem portanto entender que os objetos são atraídos para a Terra. Mas a lei da gravidade também ensina que todos os objetos caem ao mesmo tempo se atirados a uma distância similar.

A “Fallturm Bremen” é uma torre de queda livre no Centro de 
Tecnologia Espacial Aplicada e Microgravidade (ZARM) da 
Universidade de Bremen, na Alemanha. Tem um tubo de 123 metros
 (a verdadeira distância de queda são 110 m), no qual 4.74 segundos
 de ausência de gravidade podem ser conseguidos.

Esta última parte não é confirmada pela nossa observação. Quando se deixa cair uma pena e uma peça de chumbo da mesma altura, elas não atingem simultaneamente o chão. Será que, não obstante, ainda acreditamos em Newton, que alega que todos os objetos caem com a mesma aceleração?

Uma análise mais atenta mostra contudo que as propriedades aerodinâmicas da atmosfera exercem uma influência altamente disruptiva na velocidade dos objetos. Isto foi demonstrado muitos anos depois de Newton no que se designa por torre de queda de vácuo. Provavelmente poucos leitores de Lucifer repetiram os testes com uma torre de queda. Não determinaram pela sua própria observação que as leis de Newton são efetivamente corretas. Apenas aqueles que o fizeram, experienciaram efetivamente a verdade.

Mas, a maior parte das pessoas apenas observou que os objetos caem na terra. Portanto, se querem assumir as leis de Newton como verdadeiras, elas devem ter confiança em Newton e noutros investigadores que recolheram mais informação sobre este tópico. Eles obtêm essa confiança ao ponderar de forma independente os detalhes das várias investigações. Devem ser ativos na procura de compreenderem.

Outros podem nunca ter refletido sobre a gravidade. Acreditam na autoridade dos cientistas ou dos professores de que Newton estava certo. Assumem que ele e os físicos depois dele são pessoas de tal modo inteligentes que o mais provável é que estejam certos. Portanto, existem três géneros de convicção, ou três tipos de humanos. Aqueles que acreditam, aqueles que têm confiança e aqueles que sabem. É claro que existem combinações destes três tipos.


A mensagem de H.P. Blavatsky

Vamos agora olhar para o nosso objeto principal, a Theosophia. Esta “Sabedoria Divina” foi trazida por H.P. Blavatsky no final do século XIX. Mais tarde foi desenvolvida e disseminada por outros.

Blavatsky demonstrou nos livros e nos muitos artigos que escreveu, as implicações da Teosofia. Ela explicou os ensinamentos teosóficos ao usar os exemplos correntes de então. Algumas das teorias científicas do seu tempo estão obsoletas. Mas ela apenas usou esses exemplos para explicar os princípios universais. As descobertas recentes podem muitas vezes ilustrá-los melhor, portanto o que mais interessa são as doutrinas e não os exemplos.





Um outro ponto é o de que a Teosofia contém um vasto campo de ensinamentos. Oferece uma visão nítida em relação a cada tópico. Não existe assunto em relação ao qual a Theosophia não tenha uma visão. Às vezes os ensinamentos são muito detalhados e é difícil encontrar o nosso caminho através de um labirinto de informação. Não conseguimos ver a madeira nas árvores.

Se contudo queremos encontrar a verdade, não devemos começar com os detalhes, mas com uma perspetiva mais ampliada. Por outras palavras: quais são os princípios da Teosofia?

Ora, estes princípios são claros como a água. Não são dogmas, mas devemos tomá-los como hipóteses ou axiomas. (2) Os princípios centrais são: 1) ilimitabilidade 2) ciclicidade 3) evolução progressiva e absoluta igualdade entre todos os seres vivos. Por outras palavras, todos os seres vivos estão no seu núcleo ilimitado. E, ao estarem nas profundezas dos seus corações ilimitados, existe uma absoluta igualdade. Num processo cíclico eles aparecem e desaparecem. Durante o período no qual aparecem nesta etapa na Terra, eles têm a possibilidade de desenvolver mais do seu infinito potencial.

Destas três ideias básicas podemos deduzir que cada fenómeno é a manifestação da consciência, a manifestação de um poder ou de uma substância formativa subjacente mais etérica. Um fenómeno é portanto como uma sombra: vai e vem, enquanto a força que projeta a sombra subsiste.

Todos os ensinamentos teosóficos, até ao mais pequeno pormenor, são baseados nestas ideias centrais. São emanadas logicamente a partir dessas ideias e nunca podem contradizê-las.

Notas:

2. Ver: Herman C. Vermeulen, ‘H.P. Blavatsky’s message to the world’, Lucifer, nº1, março 2015, p. 2-4.

sábado, 19 de março de 2016

Como provar a Teosofia? - H.P. Blavatsky e os seus sucessores (1ª parte)

A Sociedade Teosófica de Point Loma  BlavatskyHouse, é uma das organizações teosóficas mais ativas na disseminação da Teosofia  nos últimos anos. Embora de reduzida dimensão quando comparada por exemplo com a Sociedade Teosófica de Adyar e com a Loja Unida de Teosofistas, e estando apenas presente na Holanda e na Alemanha – ou seja não tendo a dimensão internacional das duas maiores organizações – o seu trabalho merece todos os encómios, sendo alvo de admiração até por quem é membro de outros grupos. A aplicação prática dos princípios teosóficos é visível no comportamento dos seus membros, e quase todos, se não mesmo todos desempenham alguma tarefa, não havendo membros inativos. Além do mais estudam com empenho e devoção o trabalho de Helena Blavatsky, William Judge e de Gottfried de Purucker.


Um dos modos que a S.T. Point Loma utiliza para veicular a Sabedoria Perene é a revista Lucifer (recuperando assim a designação do título da revista que Blavatsky lançou depois do seu regresso à Europa) e foi do número de março de 2015 dessa revista que se traduziu para Português o artigo, cuja primeira parte (de cinco) é hoje publicada.



Capa da revista Lucifer de onde
foi retirado este artigo.


No início do artigo existe uma secção com as ideias centrais do mesmo, pelo qual não é necessário fazer nenhuma introdução. A autoria do texto pertence a Barend Voorham – membro proeminente da organização e elemento ativo das Conferências Internacionais de Teosofia, nas quais participam membros das diferentes tradições do movimento teosófico - e também ao líder da S.T. Point Loma, Herman C. Vermeulen. Para saber mais sobre esta organização, veja o artigo publicado no Lua em Escorpião sobre “A Teosofia e as Sociedades Teosóficas”. De referir que este é o terceiro artigo que este blogue lança proveniente da S.T. Point Loma. Para ver os dois anteriores clique aqui e aqui.


Como provar a Teosofia? - H.P. Blavatsky e os seus sucessores

por Barend Voorham e Herman C. Vermeulen


A Teosofia não é uma religião. E certamente não é uma crença. Todos os líderes teosóficos, enfática e repetidamente declararam que deveríamos investigar a Teosofia por nós próprios. Mas como? E como sabemos que é verdade? Se não temos que depositar uma fé cega nos líderes teosóficos, então que papel desempenham eles?

IDEIAS CHAVE:

  •  Prova é a convicção para o coração, a mente e os sentimentos.
  •  Podemos ser convencidos por três causas: perceção da verdade, confiança e crença.
  • Comece por estudar Teosofia testando os princípios.
  • A Teosofia deve ser baseada nos seus méritos intrínsecos e não na autoridade daquele que a proclama.
  • Ao tentar disseminar a Teosofia, H.P. Blavatsky, emissária dos Mestres, colocou a primeira pedra. Depois da sua morte, os Mestres continuaram a apoiar o trabalho.


Como sabemos que alguma coisa é verdade? Se foi provada. Mas o que é uma prova?

Uma prova é informação que mostra que algo é definitivamente verdade. É um fator externo e dá garantia decisiva da correção de algo. É como um apresentador de concursos, que avalia a resposta a uma questão, se está certa ou errada. O seu julgamento não pode ser disputado.

A realidade, contudo, é diferente, porque a prova está sempre relacionada com a consciência individual do homem. Gottfried de Purucker, quarto líder da Sociedade Teosófica (S.T.), descreve-a como “a convicção de que uma coisa é verdade para a mente pensante”. Ele acrescenta, “se pela adução de provas, a mente não é influenciada a acreditar que determinada coisa é verdade, essa coisa não foi provada, embora possa ser verdade. (1)


Katherine Tingley (1847-1929)

Portanto, ninguém nos pode fornecer provas. Só estão disponíveis através de autoanálise. Mas, quando é que ficamos convencidos de que algo é verdade?

Existem três aspetos principais no qual a convicção pode estar baseada: a perceção da verdade, a confiança e a crença. Estes três conceitos desempenham um papel importante para obter convicções e consequentemente provas.


A perceção de Verdade – o coração

Quando falamos de VERDADE, referimo-nos à mais elevada e universal expressão do SER. O SER é ilimitado. Nenhuma entidade é capaz de conhecê-lo, nem mesmo o deus mais exaltado, pois cada entidade é limitada e portanto não pode nunca experienciar a derradeira VERDADE. Mesmo um deus sabe que é apenas parte dela.

Expandir a consciência significa tornar-se mais consciente desta Verdade Universal. O que experienciámos dela até agora é a nossa convicção derradeira. Estamos conscientes de algo e estamos convictos da sua verdade. A nossa perceção da Verdade é sempre limitada, mas está constantemente sujeita a crescer.

De modo a compreendermos a Verdade Universal devemos ativar os nossos aspetos mais elevados do pensamento. Podemos chamar a estes aspetos o coração do nosso ser. Eles constituem os aspetos divino-espirituais dentro de nós, o que em Sânscrito é chamado de Âtman e de Buddhi. É a parte de nós que compreende a unidade e a interligação de todas as entidades. É a base de toda a ética. É supra-pessoal, portanto nunca está ligado a qualquer opinião pessoal limitada.





Confiança – a cabeça

Quando somos capazes de verificar parte de uma doutrina, proposição ou hipótese ao experienciá-la na nossa vida diária como verdade – porque esta parte coincide com aquilo que já sabemos, ou expande as nossas conceções – construímos confiança na sua verdade. Pode ser afirmado que neste caso também existe convicção? Num certo sentido, sim, embora não atinja uma profundidade como a perceção da verdade pelo coração. Não podemos verificar e examinar toda a doutrina, mas apenas partes ou aspetos da mesma. Contudo entendemos a lógica desses aspetos e percebemos que a doutrina é consistente. Isto dá-nos a confiança de que o resto da doutrina também é verdade. Embora não consigamos ver a imagem completa, somos capazes de compreender facetas da verdade, que nos ajudam a estar convencidos de aspetos de uma doutrina, que na sua totalidade estão acima da nossa compreensão. Podemos portanto alcançar um certo nível de convicção. Esta convicção tornou-se para nós numa hipótese muito razoável.


Neste modo de pensar o intelecto é altamente eficaz, mas está focado no espiritual e no divino; esses aspetos são também parcialmente ativos. É a combinação desses três aspetos da consciência – Âtman, Buddhi e Manas – que nos fornece a confiança da verdade de uma doutrina. E, se aplicarmos essa doutrina consistentemente e com perseverança nas nossas vidas e se repetidamente revela ser verdade, a nossa convicção na Verdade irá sucessivamente crescer.


Notas: 

1. G. de Purucker, ‘How can you Prove Reincarnation’. Wind of the Spirit, Point Loma Publications, San Diego 1976, p. 245.


Continua na próxima semana.