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sábado, 25 de junho de 2016

A controvérsia sobre o quinto e sexto volumes de "A Doutrina Secreta" (3ª parte)

Continuamos esta semana, com a tradução do artigo de Daniel H. Caldwell, “O mito do terceiro volume desaparecido de A Doutrina Secreta”. É fundamental ler a e partes publicadas nas semanas anteriores.

Página de entrada do site Blavatsky Study Center
editado por Daniel H. Caldwell


O MANUSCRITO DO VOLUME I E O MANUSCRITO DE WÜRZBURG

Escrito apenas seis anos depois dos acontecimentos que ele próprio descreveu, Bertram Keightley conta-nos que à sua chegada a Londres em maio de 1887, a Senhora Blavatsky “colocou tudo o que havia de manuscritos completos [de A Doutrina Secreta] nas mãos do Dr. [Archibald] Keightley e de mim próprio… Ambos lemos todo o conjunto de manuscritos – uma pilha com quase 1 metro de altura – o mais cuidadosamente possível (retirado de “Reminiscências de H.P. Blavatsky e A Doutrina Secreta”, pela Condessa Constance Wachtmeister et al., edição da Quest, 1976, p.78 [NT: este livro existe em português] também citado em “Historical Introduction” to the Secret Doctrine “Collected Writings”, I.41).


Bertam Keightley (1860-1944), tio
de Archibald Keightley


Bertram refere que este manuscrito original estava dividido em três partes ou volumes:

- Volume I: História de alguns grandes ocultistas

- Volume II: Evolução do Cosmos

- Volume III: Evolução do Homem

A referência de Bertram a “tudo o que havia de manuscritos completos” dirige-se obviamente, ao manuscrito original de A Doutrina Secreta, escrito entre 1884 e abril de 1887, que estava na própria caligrafia de HPB.

Qual era a ordenação e o conteúdo do volume I – o volume que continha a história de alguns grandes ocultistas, que Bertram e Archibald Keightley leram em maio de 1887?

Numa carta datada de 23 de setembro de 1886 (apenas oito meses antes dos Keightley lerem os três volumes em Londres), HPB escreveu ao Coronel Henry S. Olcott:


Henry Steel Olcott (1832-1907)

“Envio-te o manuscrito de “A Doutrina Secreta”…Por agora envio apenas o primeiro volume da Secção Introd. Existem no 1º volume introdutório sete secções ou capítulos e 27 apêndices, vários apêndices ligados a cada secção da 1 à 6, etc…Tudo isto constituirá um volume e não é a D.S. mas um prefácio…Portanto, está disposta de forma a que os apêndices possam estar junto com as Secções ou retirados e colocados num volume separado ou no fim de cada um…Se se tirar os ap.. então não terá mais de 300 páginas nas secções Int. mas estas perderão interesse [citado a partir de de Zirkoff , SDIntro., 30-1].

Este manuscrito enviado ao Coronel Olcott não era o manuscrito original na caligrafia de HPB mas uma cópia feita pela Condessa Constance Wachtmeister e pela Srª Maria Gebhard. Este manuscrito do “1º volume” é parte do “manuscrito de Würzburg” agora preservado nos Arquivos da Sociedade Teosófica de Adyar, Madras, Índia.

(Para aqueles interessados no Manuscrito de Würzburg, grande parte do volume I do manuscrito foi publicado de forma seriada nas páginas do The Theosophist em agosto de 1931 e Outubro de 1932 a Novembro de 1933; vol.52, pt.2, p. 601-7; vol.54, pt. l, p. 27-36, 140-50, 265-71, 397-401, 538-42, 623-8, e pt. 2, p. 9-14, 137-43, 263-6, 391-5, 505-9, 633-7; vol. 55, pt. 1, p. 12-6, 143-6. Consultar o índice do volume XIV dos Collected Writings para mais excertos do manuscrito. As estâncias de Dzyan conforme encontradas no volume II deste manuscrito foram publicadas como as “Estâncias no Manuscrito de Würzburg”, p. 514-20 no volume III de “A Doutrina Secreta”, na edição dos “Collected Writings”, Adyar, 1978; Wheaton, 1993. Ver também a p.34 de "Historical Introduction" à Doutrina Secreta de de Zirkoff para um facsimile de uma página do manuscrito de Würzburg. Esta página contém uma das Estâncias de Dzyan. Cópias em microfilme do “manuscrito de Würzburg” existem; consultei o microfilme enquanto pesquisava sobre este assunto).


O manuscrito de Würzburg foi
recentemente editado por David Reigle.


O volume I do manuscrito de Würzburg consiste de apenas cinco secções e um apêndice. Ver aqui o conteúdo do volume I do manuscrito de Würzburg. A carta de HPB para Olcott (acima citada) sugere que o manuscrito de Würzburg sobrevivente está incompleto e possivelmente representa apenas um terço do primeiro volume original de “A Doutrina Secreta”.

Como descreve HPB o tema do volume I original? Na sua carta de 14 de julho de 1886 para Olcott, ela dá a seguinte informação:

“Vou enviar a teu cuidado e à tua responsabilidade o “Prefácio para o leitor” e o 1º capítulo da “Doutrina Secreta”. Existem mais de 600 páginas de papel de ofício como um livro preliminar introdutório, mostrando os inegáveis factos históricos provados sobre a existência dos Adeptos antes e depois do período Cristão, da aceitação de um sentido esotérico duplo em ambos os Testamentos pelos Pais da Igreja e provas de que a verdadeira fonte de todos os dogmas cristãos assenta nos mais antigos MISTÉRIOS arianos durante os períodos védico e bramânico, provas e evidências disso. Dentro de quinze dias enviarei o Prefácio e o 1º capítulo. [citado em de Zirkoff, Introdução da DS 28-9].

Nesta carta, HPB descreve não só os conteúdos do primeiro volume original de “A Doutrina Secreta” mas também os conteúdos do manuscrito de Würzburg que sobreviveu. Em 3 de março de 1886 numa carta para A.P. Sinnett, HPB descreveu os conteúdos deste mesmo primeiro volume de “A Doutrina Secreta”:

Blavatsky e Olcott sentados e Sinnett de pé
Foto: ST Espanha, Loja Espanha

“Terminei um enorme Capítulo Introdutório ou Preâmbulo, Prólogo, chame-lhe o que quiser; apenas para mostrar ao leitor que o texto tal como é apresentado - cada Secção começando com uma página da tradução do Livro de Dzyan e do Livro Secreto do “Buddha Maitreya” Champai chhos Nga (em prosa, não os conhecidos cinco livros em verso indecifráveis) - não é ficção.”

Foi-me ordenado assim, fazer um rápido esboço do que era conhecido historicamente e na literatura, nos clássicos e nas histórias sagradas e profanas – durante os 500 anos que precederam o período cristão e os 500 anos subsequentes: da magia, a existência de uma Doutrina Secreta Universal conhecida dos filósofos e dos Iniciados de todos os países e até de vários pais da Igreja como Clemente de Alexandria, Orígenes e outros, que tinham sido eles próprios iniciados.

Também descrever os Mistérios e alguns rituais, e posso assegurar-lhe que as coisas mais extraordinárias serão expostas agora, a história completa da Crucificação, etc… mostrando que são baseadas num rito tão antigo como o mundo – a crucificação do Candidato em provação no torno, descendo ao Inferno, etc… tudo Ariano.




A história completa até aqui ignorada pelos Orientalistas é encontrada exotericamente nos Puranas e nos Brahmanas e explicada e complementada com aquilo que as explicações esotéricas fornecem.  [Letters of H.P. Blavatsky to A. P. Sinnett, ed. A. T. Barker, p.195; também citado por de Zirkoff em SD Intro., p.26].

Boris de Zirkoff e Geoffrey Barborka (SD Intro., p.68-70) acreditam que esta carta do mês de março descreve material que não está mais disponível. Existem razões para uma opinião contrária. De Zirkoff (69) diz que HPB na sua carta de 3 de março descreve “um enorme Capítulo Introdutório” e que “cada Secção começa com uma página da tradução do Livro de Dzyan”. Isto, estou em crer, é uma interpretação errónea do que HPB escreveu e que foi acima citado:


Geoffrey Barborka (1897-1982)

“Terminei um enorme Capítulo Introdutório ou Preâmbulo, Prólogo, chame-lhe o que quiser; apenas para mostrar ao leitor que o texto tal como é apresentado - cada Secção começando com uma página da tradução do Livro de Dzyan e do Livro Secreto do “Buddha Maitreya” Champai chhos Nga (em prosa, não os conhecidos cinco livros em verso indecifráveis) - não é ficção.”

A chave para a interpretação desta passagem é a frase “tal como o texto
é apresentado”, que se refere, estou em crer, ao texto central do segundo volume de A Doutrina Secreta (que lida com a cosmogonia), na qual cada secção começa com uma página da tradução do Livro de Dzyan.  Por outras palavras, HPB havia escrito um enorme “Livro Introdutório Preliminar”, “Capítulo Introdutório ou Preâmbulo, Prólogo, chame-lhe o que quiser” (Volume I) de modo a mostrar ao leitor que o texto principal no Volume II sobre cosmogonia “não era ficção”. Então HPB prossegue explicando que o que estava no primeiro volume: “Foi-me ordenado…fazer um rápido esboço daquilo que era conhecido.”


H.P. Blavatsky


Continua na próxima semana.

sábado, 18 de junho de 2016

A controvérsia sobre o quinto e sexto volumes de "A Doutrina Secreta" (2ª parte)

Na segunda parte deste artigo é iniciada a tradução do texto de Daniel Caldwell sobre o terceiro volume de "A Doutrina Secreta". Para perceber o contexto é fundamental ler a 1ª parte publicada na passada semana.


Único livro de Daniel H. Caldwell
editado em língua portuguesa.



Parte 1 - Introdução

Em 1897, Annie Besant publicou aquilo a que chamou de terceiro volume de “A Doutrina Secreta”, que tinha sido anunciado por H.P. Blavatsky mas deixado por publicar durante a vida da autora. Presentemente, o ponto de vista dominante é o de que o que Besant publicou não é o terceiro volume de Blavatsky, mas sim algo reunido a partir de vários documentos deixados por HPB.


Annie Besant (1847-1933)


Seguem-se alguns exemplos dessas opiniões:

Um “Terceiro volume” espúrio [foi] lançado em 1897, seis anos após a morte de H.P. Blavatsky. Compilado a partir de uma miscelânea de papéis encontrados nos seus pertences, este volume não faz parte de A DOUTRINA SECRETA original escrita por H.P.B. [prefácio do editor (1947) na reimpressão facsimile da edição de “A Doutrina Secreta” pela Theosophy Company, Los Angeles, Califórnia].

O volume III de “A Doutrina Secreta”…foi publicado em Londres em 1897 com um prefácio escrito por Annie Besant. Deve ficar claro contudo, que este volume não é o terceiro volume idealizado por HPB [Geoffrey A. Barborka, H. P. Blavatsky, Tibet and Tulku, p. 159].




O verdadeiro Volume III…desapareceu sem deixar rastro. [Boris de Zirkoff em H.P.B.'s Collected Writings, vol.7, p.226, nota de rodapé].

O volume III em perspetiva…nunca viu a luz do dia. [de Zirkoff em DS vol. 1, p.679 (Collected Writings edition).

É possível que HPB tivesse em mente um volume adicional [o terceiro] de “A Doutrina Secreta” que efetivamente nunca foi encontrado entre os seus papéis. [de Zirkoff em CW vol. 14, p.1] 

 


No volume I, Blavatsky havia prometido um terceiro volume e projetado um quarto. Essa promessa foi repetida no fim do volume II… Algum material havia sobrado do volume I tal como ela originalmente o concebeu…mas relativamente pouco havia efetivamente sido escrito…Quando Annie Besant tentou encontrar o material não publicado, ela foi capaz de localizar apenas muito pouco daquilo que pertencia ao que HPB pretendia para a continuação do livro. O pouco que Besant encontrou, foi combinado com algumas instruções que Blavatsky tinha escrito para os membros da Secção Esotérica…e esse material, uma evidente mixórdia, foi publicado…como o “terceiro volume” do trabalho de HPB. O “terceiro volume” contém indubitavelmente algum material – sobre as vidas de ocultistas famosos – que havia sido eliminado do primeiro volume do trabalho original, mas também continha bastante material que certamente nunca foi suposto integrar A Doutrina Secreta. [John Algeo, Getting Acquainted with The Secret Doctrine: A Study Course, ed. 1990, p. 23-4]

H.N. Stokes, editor de “The 0. E. Library Critic” defendia que os manuscritos do verdadeiro volume III desapareceram e nunca foram publicados. Ele escreveu cerca de dezassete artigos analisando as provas em relação aos manuscritos do volume III.


H.N. Stokes (1859-1942)

Podemos adicionar muitos outros nomes conhecidos à lista daqueles que têm opiniões semelhantes: Alice Cleather, Basil Crump, Charles J. Ryan, Victor Endersby, Walter A. Carrithers, Jr., Kirby Van Mater, Ted G. Davy, Richard Robb, Dara Eklund e muitos mais.

Este ponto de vista dominante era também a minha opinião inicial, mas depois de um estudo aturado do manuscrito de Würzburg de “A Doutrina Secreta” e de todos os outros documentos de fonte primária relevantes (1886-1897) sobre o assunto, já não estou mais convencido de que os escritores teosóficos acima mencionados estão certos nos seus pontos de vista em relação ao volume III.

De facto, estou inclinado a acreditar que as páginas 1-430 do volume III [NT: que correspondem ao volume V e volume VI até à pág. 75 da edição em língua portuguesa de “A Doutrina Secreta”] publicado em 1897 era o verdadeiro terceiro volume pretendido por HPB (as páginas 433-594 daquele volume [NT: correspondem às páginas seguintes à 79 no volume VI de língua portuguesa] consistem dos ensinamentos esotéricos dados por H.P. Blavatsky aos membros da Escola ou Secção Esotérica durante os anos de 1889-1891 e não estão em debate). As provas e o raciocínio para suportar esta posição serão de seguida apresentados.


H.P. Blavatsky


Continua na próxima semana.

sábado, 11 de junho de 2016

A controvérsia sobre o quinto e sexto volumes de "A Doutrina Secreta" (1ª parte)


Outubro de 1888. Era lançado em Londres o primeiro volume de “A Doutrina Secreta”. Dois meses depois sairia o segundo volume. Escrita por Helena Petrovna Blavatsky, “A Doutrina Secreta” tornar-se-ia uma obra incontornável da chamada literatura esotérica. Traduzida em várias línguas, continua a ser alvo de intenso estudo por estudantes de Teosofia (e não só) em todo o mundo, que tentam encontrar respostas para as muitas perguntas sobre a origem do Cosmos e da Humanidade. Uma obra desta envergadura, não poderia, como é óbvio, estar livre de controvérsias. Não vamos falar das acusações de plágio que foram feitas a Blavatsky há mais de 120 anos. Este artigo destina-se sobretudo a explanar os argumentos a favor e contra em relação à legitimidade do quinto e sexto volumes da edição em língua portuguesa, editada pela Pensamento.




Nas discussões que têm lugar entre os falantes de língua inglesa, discute-se o “terceiro volume” (e não o quinto e o sexto), porque aos dois volumes publicados durante a vida de Blavatsky, Annie Besant (a sua sucessora na Sociedade Teosófica, num processo também ele controverso) e G.R.S. Mead (o antigo secretário particular de Blavatsky) somaram-lhe um terceiro, em 1897.

Foi a partir da chamada “versão de Adyar” publicada em 1938 (também esta com seis volumes), que a versão existente em língua portuguesa nasceu. A edição da Pensamento tem 6 volumes, correspondendo os dois primeiros ao volume I original em inglês, o terceiro e o quarto ao volume II e os dois últimos ao tal volume III publicado depois do falecimento da Velha Senhora. Sem ter isto presente, a leitura do artigo resultará numa manifesta confusão.





O VOLUME "MALDITO"

A Loja Unida de Teosofistas (LUT), uma das organizações que é uma das diversas ramificações que nasceram da sociedade matriz, fundada por Blavatsky, Olcott e Judge (e outros menos conhecidos) em 1875, em Nova Iorque, disponibiliza em na internet e publica em livro, a versão fac-simile de “A Doutrina Secreta”.

No prefácio da Theosophy Company, a editora associada à LUT (para aqueles pouco familiarizados com a história do movimento teosófico e as diversas organizações teosóficas aproveito para sugerir a leitura de “A Teosofia e as Sociedades Teosóficas”, que o Lua em Escorpião publicou há cerca de dois anos) podemos ler o seguinte:

“Além da versão original de 1888 – a única autorizada pela Senhora Blavatsky – várias outras edições deste trabalho surgiram. Uma delas, a chamada “Terceira Edição Revista” de 1893, é vítima de vários milhares de alterações, algumas delas triviais, outras verdadeiras mutilações do texto original. Incluída em impressões posteriores desta chamada “Edição Revista” está o espúrio “Terceiro volume” de A DOUTRINA SECRETA, lançado em 1897, seis anos após a morte de H.P. Blavatsky. Compilado a partir de uma miscelânea de papéis encontrados nos seus pertences, este volume não faz parte de A DOUTRINA SECRETA original escrita por H.P.B..


Helena Blavatsky (1831-1891)


A “Terceira Edição Revista” foi seguida por outra de 1938, desta vez em 6 volumes, chamada a “Edição de Adyar”. Além dos índices remissivos, um retrato biográfico da autora, várias alterações tipográficas e a inclusão de material para tentar justificar a publicação do espúrio “terceiro volume”, esta edição de Adyar é substancialmente idêntica à anterior versão “revista”.

Além dessa, outra edição de A DOUTRINA SECRETA foi lançada. Para além de “correções” sem fundamento do Sânscrito usado pela autora e a inclusão de material sectário irrelevante, esta edição é praticamente uma reprodução fiel do texto original. A sua exata autenticidade, contudo, não pode ser determinada sem uma laboriosa comparação com o original [NT: esta é uma referência à edição de Boris de Zirkoff].

A DOUTRINA SECRETA genuína tem apenas dois volumes. Embora originalmente A DOUTRINA SECRETA fosse constituída por quatro volumes, apenas dois foram entregues à tipografia por H.P.B.. Os dois volumes remanescentes, embora completos, ou quase completos, foram retidos por motivos claramente indicados no final do segundo volume da edição original (v.798 [da edição em inglês original; vol. IV da versão em português, p.366]).”


Boris de Zirkoff (1902-1981)

A edição de 1938 serviu de base à tradução para língua portuguesa, mas não só. A única tradução existente noutros idiomas é baseada nesta versão.

Em 1979, a Sociedade Teosófica de Adyar abandonaria esta versão, passando a publicar a versão de Boris de Zirkoff e o “terceiro volume” passou a ser vendido separadamente. O seu conteúdo pode também ser encontrado no volume XIV dos Collected Writings (Escritos Reunidos) de HPB.

Já no presente século, chegaram os primeiros ecos de protesto contra a “edição de Adyar” ao universo teosófico de língua portuguesa, pelas mãos de Carlos Aveline, o líder da LUT luso-brasileira. Neste texto, é referido que:


Carlos Cardoso Aveline
 (Foto: Jornal O tempo de Belo Horizonte)

“Pouco depois da morte da Sra. Blavatsky, Annie Besant estava entre os principais líderes do movimento teosófico quando abandonou a ética e os ensinamentos originais da filosofia esotérica. Ela decidiu então adulterar o texto de “A Doutrina Secreta”, usando a desculpa de “revisá-lo”, e publicou uma edição ilegítima da obra, que foi preparada com ajuda de G. R. S. Mead e outros membros desorientados da Sociedade de Adyar.”

Aveline também “informa” os teosofistas que entendem o inglês e seguindo a mesma linha encontramos o texto do britânico Matthew Webb (também da LUT) no seu excelente site Blavatsky Theosophy.

Durante o século XX a visão de que este 3º volume era espúrio foi predominante, em grande medida como resultado do que escreveu Boris de Zirkoff – possivelmente o teosofista mais importante do século passado – sobre esse volume.




Este artigo que o blogue Lua em Escorpião publica é composto de duas partes centrais. A primeira é o texto de Daniel Caldwell, “O Mito do Terceiro Volume desaparecido de A Doutrina Secreta”, cuja tradução para português foi amavelmente autorizada pelo autor. A segunda parte é uma troca de argumentos bastante elucidativa, exatamente sobre este tema, que teve lugar no melhor fórum de discussão sobre Teosofia, o Theosophy Nexus. Também neste caso um dos administradores da plataforma anuiu ao meu pedido de tradução do conteúdo desta discussão.

Antes de avançarmos para o texto de Daniel Caldwell, queria referir que o objetivo deste artigo é dar ao leitor uma visão abrangente, que abarque os argumentos contra e a favor, para que o mesmo perceba também que é injustificável qualquer postura dogmática sobre este tema, bem como o tom de alguns ataques, absolutamente inaceitáveis entre (supostos) teosofistas.

Continua na próxima semana.