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sábado, 28 de setembro de 2013

“Best of” da Conferência Internacional de Teosofia

Realizou-se nos passados dias 8 a 11 de agosto em Nova Iorque a 15ª Conferência Internacional de Teosofia (ITC). Já antes daquela data, o Lua em Escorpião tinha feito divulgação deste importante encontro entre teosofistas das diferentes tradições.

Passado cerca de um mês e meio desde o final da Conferência, decidi elaborar este post identificando aquelas apresentações que considerei como mais interessantes. É obviamente uma escolha pessoal, baseada naturalmente nas minhas preferências. O website da ITC tem disponíveis praticamente todas as intervenções mencionadas no programa da Conferência, que podem ser acedidas aqui e aqui.

No dia 7, a Sociedade Teosófica-Blavatsky House, que tem sede em Haia, na Holanda, e que se constitui como um dos grupos mais ativos em todo o mundo na difusão da Teosofia, fez uma espécie de pré-conferência, com Herman Vermeulen a oferecer aos ouvintes uma excelente introdução à Teosofia. Confira isso mesmo nos primeiros 50 minutos deste vídeo. A palestra seguinte também é de interesse, debruçando-se sobre as 7 joias de sabedoria.

Ken Small  (que também falou na ITC) e Herman C. Vermeulen


Sala Multifuncional

No dia 8, o primeiro dia propriamente dito da Conferência, vale a pena assistir à intervenção de Garrett Riegg, (presidente da ITC), que com uma nota pessoal faz uma excelente introdução prática ao tema da compaixão (o assunto central da conferência deste ano) (ver vídeo a partir do minuto 8).

Depois da intervenção de Riegg destaco a extraordinária palestra sobre a "Nova Iorque Oculta" de Mitch Horowitz, o editor-chefe da divisão dedicada a literatura metafísica da editora Penguin. A comunicação, que decorreu já no dia 9, inclui inúmeros detalhes e factos históricos que são o resultado da liberdade religiosa que os pais fundadores quiseram introduzir na jovem nação norte-americana. As palestras que se seguiram sobre “Sabedoria e Compaixão” (por Nandini Iyer) e sobre o Bhagavad-Gitâ (por Vicky Prinz) também valem a pena, tal como a curiosa história sobre como o Jan Nicolaas Kind descobriu a Teosofia (aqui a partir do minuto 7).



A atração mais sonante da ITC era Dean Radin e o conhecido cientista não deixou os seus créditos por mãos alheias. Tendo como pano de fundo o seu mais recente livro “Supernormal: Science, Yoga, And The Evidence For Extraordinary Psychic Abilities”, Radin na sua comunicação mostra os estudos científicos que comprovam  que algumas capacidades psíquicas como a telepatia não são fantasia de alguns crédulos. Para quem tem interesse na ligação entre ciência a teosofia este vídeo é de visionamento "obrigatório".



No dia 10 de agosto, o meu destaque vai para a comunicação de Johanna Vermeulen intitulada “A criança reflete a raça”, que fez uma interpretação muito interessante dos ensinamentos esotéricos, com respeito à relação entre a evolução das raças na presente ronda e a evolução do ser humano atual, nas suas diferentes etapas de desenvolvimento. Vermeulen introduziu elementos da biologia e psicologia, o que enriqueceu bastante a apresentação, que pode ser vista nesta página (nº 24 a partir da 1h 57m).

Johanna Vermeulen

Umas horas antes de Johanna Vermeulen, falou uma cara bem conhecida do meio teosófico, Michael Gomes, que já publicou vários livros, o último dos quais uma versão bastante resumida da Doutrina Secreta, que inclusive já foi traduzida para português. A intervenção bastante interessante e bem-humorada de Gomes gira em torno de uma série de pequenas historietas derivadas da tradição espiritual oriental complementadas com referências à “Voz do Silêncio” e a outros escritos de HPB, com o objetivo de refletir sobre o tema “Pois a mente é como um espelho” (nº25, aos 49 min). As suas observações sobre a obra de Shantideva "Bodhicharyavatarya", que se debruça sobre os paramitas, são bastante oportunas.

Michael Gomes

A última comunicação nesta sala (já no domingo, dia 11) foi sobre comunicação não-violenta e deveria ser visionada por um grupo de teosofistas que insiste em propagar os seus ideais de forma impositiva, tentando criar impacto através de uma postura denunciadora e persecutória. O vídeo está aqui.


Sala da Biblioteca e sala da projeção

Várias das palestras decorreram em simultâneo e felizmente, além de podermos visionar as realizadas na sala multifuncional, também as que tiveram lugar na sala da biblioteca e na sala da projeção podem ser acedidas através do site livestream.

Assim no primeiro dia de conferências nesta sala (dia 9), o destaque vai para a intervenção de Ed Abdill.
Muito conhecido pela sua capacidade oratória e por prender a atenção dos ouvintes (nem precisa de slides…), ele tenta nesta exposição (a partir da 1h31m) explicar a constituição setenária do homem com exemplos práticos. Abdill confessa que o seu objetivo em todos estes anos foi transpor os princípios mais abstratos da teosofia para linguagem mais acessível e realmente é espantoso como o consegue (neste video abaixo ele fala sobre a sua relação pessoal com a teosofia). Na longa intervenção do teosofista norte-americano ainda houve tempo para falar da escada de ouro. Antes da palestra de Abdill, Ruth Richards, fez uma espécie de pré-aquecimento para a comunicação de Radin, que decorreria mais tarde noutra sala.

Ed Abdill

No mesmo dia, na parte da tarde, o médico Richard Hiltner (aqui a partir do min.51), praticante de homeopatia, discursou sobre a cura empática. Na sua interessante intervenção Hiltner falou dos elementos na perspetiva ocidental e oriental (ayurveda e medicina tradicional chinesa) e mostrou a aplicação prática da chamada astrologia médica. Este último ponto foi particularmente fascinante.

Richard Hiltner

No dia 10, destaco a apresentação (vídeo nº 37) de Jan Jelle Keppler sobre o reformador do lamaísmo Tsong Kha Pa, que fundou a escola Gelugpa. Não sendo uma exposição muito amigável para o ouvinte – Keppler leu durante 45 minutos partes do seu artigo sobre Tsong Kha Pa – contém elementos muito interessantes sobre a vida daquele famoso mestre do budismo tibetano.

Jan Jelle Keppler

Muitas das intervenções ficaram de fora desta escolha, não devendo ser feito qualquer juízo de valor sobre o seu interesse ou qualidade. Como referi esta seleção tem apenas a ver com preferências pessoais e nada mais. Encorajo aqueles que têm facilidade em entender a língua inglesa, a verem a conferência completa, seguindo os links e o programa fornecidos no início deste post.

No próximo ano, a conferência decorrerá em Naarden, na Holanda, no International Theosophical Center, em meados de agosto.

sábado, 21 de setembro de 2013

LIVROS – A Vida Antes da Vida, de Jim. B. Tucker

Terminei esta semana a leitura de “A Vida Antes da Vida – Uma Investigação Científica das Memórias Infantis de Vidas Anteriores”, de Jim B. Tucker. O livro, originalmente publicado em 2005 nos EUA, foi editado em Portugal pela Sinais de Fogo dois anos mais tarde, tal como sucedeu no Brasil, mas pela mãos da Editora Pensamento.

Capa da edição portuguesa

O Dr. Tucker é um pedopsiquiatra que trabalha na Divisão de Estudos de Personalidade da Universidade da Virgínia, continuando o trabalho feito pelo falecido pelo Prof. Ian Stevenson, cujas investigações sobre as memórias de crianças sobre pretensas vidas passadas constituem ainda um marco notável.

De referir que a unidade a que Tucker pertence, desenvolve também investigações sobre as experiências de quase-morte (EQM) e mediunidade, através do Dr. Bruce Greyson e da Drª Emily Kelly, respetivamente.

Prof. Ian Stevenson (1918-2007)


Como foi lançado em 2005, o livro beneficia ainda do contributo direto de Stevenson (que morreria dois anos mais tarde aos 98 anos de idade) através do prefácio. Ele escreveu: “Podemos facilmente pensar em objeções à reencarnação: a escassez de pessoas que realmente afirmam lembrar-se de uma vida passada, a fragilidade das memórias, a explosão populacional, o problema da relação mente-corpo, a fraude e outras. Jim Tucker aborda estas questões uma por uma e minuciosamente. O seu livro não se assemelha a qualquer outro porque não há nenhum precedente deste tipo. (…) Ele pede, quase exige, que os leitores avaliem com ele à medida que escreve e discute cada objeção à ideia de reencarnação.”(p.11 da edição portuguesa).

Efetivamente o livro segue uma abordagem de tipo científico, muita rigorosa e meticulosa. Por vezes, o leitor verá repetidos argumentos, tal é o cuidado que Tucker põe na análise das diversas explicações para os casos que apresenta.

Capa da edição brasileira


Na introdução, o pedopsiquiatra refere: “Desde há mais de quarenta anos que os investigadores pesquisam os relatos dessas crianças. Estão registados mais de 2 500 casos nos arquivos da Divisão de Estudos de Personalidade da Universidade da Virgínia. Algumas das crianças afirmaram ter sido membros falecidos da sua família, e outras descreveram vidas anteriores como estranhos. Num caso típico, uma criança muito pequena começa a descrever memórias de outra vida. A criança é persistente e frequentemente pede para ser levada para a sua outra família, num local diferente. Quando a criança fornece nomes ou pormenores suficientes sobre o local, a família dirige-se em muitos casos a esse local e descobre que as declarações da criança correspondem à vida de uma pessoa que morreu num passado recente.” (p.16).

Memórias espontâneas versus regressões

A descrição anterior é um resumo perfeito dos casos apresentados no livro, ou seja, estamos perante memórias espontâneas das crianças, que não são estimulados por qualquer processo de hipnose, em relação à qual Tucker considera tratar-se “de uma ferramenta pouco fiável, quer seja usada para descobrir memórias da vida presente, quer das vidas anteriores. A hipnose pode levar a memórias notáveis da vida presente, mas pode também produzir material de fantasia. Sob hipnose, o espírito tende a preencher os espaços em branco.” (p.265). O mesmo sucederá com certeza com as vidas passadas, pelo que se torna difícil discernir o que é real do que é fantasia. A razão principal do recurso à terapia regressiva a vidas passadas faz-se para tentar solucionar problemas de saúde, não se interessando a maior parte dos terapeutas pelo rigor histórico das descrições. Mas há exceções e em breve escreverei sobre isso, quando a abordar a obra deixada pela psicóloga e professora universitária norte-americana Helen Wambach.

Dr. Jim B. Tucker

Paralelismos com a Teosofia

O capítulo 1 inicia-se com a história de William, uma criança que alegava ser a reencarnação do avô, polícia morto a tiro cinco anos antes do nascimento de William. A criança tinha várias memórias sobre a educação da própria mãe, ministrada pela sua anterior personalidade. Sobre o período entre vidas referiu: “Quando morremos, não vamos diretamente para o Céu. Passamos por níveis diferentes - aqui, depois ali, depois ali”, uma afirmação curiosa para quem conhece a literatura teosófica sobre o período entre vidas. Note-se que o pouco tempo entre uma morte por acidente e a encarnação seguinte – outra confirmação do que ensina a teosofia – é algo transversal aos casos de morte violenta ou acidental que constituem a maior parte dos episódios descritos no livro de Tucker.

Outro aspeto interessante do livro de Tucker e que era também uma realidade na investigação do prof. Ian Stevenson tem a ver com as marcas e defeitos de nascença, pois “(…) muitos dos sujeitos dos (…) casos nascem com marcas (…) ou defeitos de nascença que correspondem a ferimentos no corpo da personalidade anterior, normalmente ferimentos fatais.” Num dos casos, a parte posterior do crânio da criança “(…) apresentava uma depressão parcial, e no mesmo local tinha uma marca de nascença. Quando começou a falar, afirmou que tinha sido um moleiro que morrera quando um cliente zangado [o] tinha assassinado.” (p.30). Obviamente que este tipo de descrições é depois confirmado e são vários os casos de crianças com este género de marcas normalmente resultantes de mortes violentas em vidas anteriores. Existe um caso, que foi investigado pelo prof. Stevenson onde uma marca foi encontrada no couro cabeludo de uma criança, marca essa nunca detetada pelos pais e que o eminente professor localizou na sequência da descrição feita pela criança sobre a sua própria morte.

As crianças normalmente começam a falar sobre as vidas passadas aos três anos e deixam de o fazer aos seis, sete anos (o que é curioso, dado que segundo HPB, “o corpo astral e físico existem antes do desenvolvimento da mente e antes do despertar de Atma. Isto ocorre quando a criança tem sete anos de idade” (Collected Writings W, Vol. X, p.218).

Em resumo, o livro é altamente recomendável, permitindo ao leitor obter informação sobre as investigações científicas num campo que é cuidadosamente evitado pela maior parte dos cientistas. Além do mais, permitirá o domínio de uma série de argumentos dificilmente rebatíveis relativamente à reencarnação.

Tucker, conforme anunciou no final desta obra, queria dedicar mais tempo à investigação de casos em território dos EUA. O resultado será novo livro a lançar em dezembro deste ano, que se intitulará “Return to Life: Extraordinary Cases of Children Who Remember Past Lives“. Podem ver uma entrevista do Dr. Tucker no video abaixo:




sábado, 14 de setembro de 2013

Mitos e verdades sobre o Conde de Saint-Germain (10ª e última parte)

Termina hoje a tradução (adaptada) do texto “O Conde de St. Germain” de David Pratt.

Em maio de 1789 Cagliostro e a sua esposa chegaram a Roma. Os seus inimigos mandaram-lhe dois jesuítas que fingiam pretender a conversão à Maçonaria Egípcia. A 27 de dezembro, Cagliostro foi preso por praticar Maçonaria, uma ofensa nos Estados papais. Ele ficou detido no Castelo Sant’Angelo em Roma, onde foi algemado e acorrentado pelo pescoço. A sua mulher também foi detida, intimada a dar informações sobre Cagliostro e “confessar” tudo. Morreria num convento alguns anos mais tarde. O julgamento de Cagliostro perante a Santa Inquisição durou 15 meses. A 7 de Abril de 1791 ele foi condenado à morte. Os seus “crimes” incluíam ser um maçon e um “herege”. Todos os seus documentos, bens e parafernália relacionada com as suas atividades maçónicas foram queimados perante uma enorme quantidade de gente, incluindo os seus manuscrito sobre a Maçonaria Egípcia. Nesse momento algo de misterioso ocorreu:

“Um estranho, nunca antes visto por ninguém no Vaticano, apareceu e exigiu uma audiência privada com o Papa, mandando através do Cardeal Secretário uma palavra em vez de um nome. Ele foi recebido de imediato, mas apenas esteve com o Papa alguns minutos. Mal ele saiu, o Papa deu ordens para comutar a pena de morte para prisão perpétua na fortaleza chamada de Castelo de San Leo, acrescentando que esta mudança deveria ser conduzida no maior dos sigilos.

Na Fortaleza de San Leo, os captores de Cagliostro, com medo que ele escapasse, por vezes punham-no numa espécie de poço, em vez da sua cela de pedra. Ele foi fisicamente torturado, e terá morrido de apoplexia a 26 de agosto de 1795. Blavatsky reconta mais tarde as histórias que negam que ele tenha morrido nas celas da Inquisição, sugerindo uma fuga espetacular.

A fortaleza de San Leo nos Montes
Apeninos. No tempo de Cagliostro, o
único modo de lá chegar era sendo içado
numa espécie de cesto com o
auxílio de cordas e roldanas.


Comentando a vida de Cagliostro, Blavatsky diz:

“A causa raiz de todos os seus problemas foi o casamento com Lorenza [ou Seraphina] Feliciani, uma ferramenta dos Jesuítas, e duas causas menores, a sua extrema boa natureza e a confiança cega que colocava nos seus amigos, alguns dos quais tornaram-se traidores e nos seus mais encarniçados inimigos. 

(…) Foi a sua ligação com a Ciência Oculta Oriental, o seu conhecimento de muitos segredos – mortais para a Igreja de Roma – que trouxeram a Cagliostro, primeiro a perseguição dos Jesuítas e finalmente a severidade da Igreja.”

Os Jesuítas mais tarde espalharam o falso rumor que ele havia sido seu espião, mas não existem provas de que Cagliostro alguma vez tivesse envolvido em intriga política.

“Ele era simplesmente um ocultista e um maçon, e como tal era permitido sofrer às mãos daqueles, que aliando o insulto à injúria, primeiro o tentaram matar por prisão perpétua e depois espalharam o rumor de que teria sido um dos seus ignóbeis agentes.

Existem muitas passagens nas biografias de Cagliostro que mostram que ele ensinou a doutrina oriental dos princípios no homem, de “Deus” vivendo no homem, como uma potencialidade in actu (o “Eu Superior”), e em todo o ser vivo e até átomo, como uma potencialidade in posse. Essas passagens também serviram para mostrar que ele serviu os Mestres de uma Fraternidade que ele não podia nomear, devido ao seu juramento de que não o podia fazer.

G. de Purucker escreve:

“Que curioso é que Giuseppe Balsamo sugira uma influência de cura e que “Balsamo” correta ou erradamente possa ser atribuída a uma palavra semítica composta que significa “Senhor do Sol”-“Filho do Sol”, enquanto o nome hebreu José significa aumento ou multiplicação. Que curioso é que o primeiro professor de Cagliostro se tenha chamado Althotas, uma curiosa palavra contendo o artigo definido árabe “o”, com o sufixo grego “as” e contendo a palavra egípcia “Thoth”, que era o Hermes grego – o Iniciador! Que curioso é que Cagliostro tenha sido chamado de órfão, a criança infeliz da Natureza! Cada iniciado num certo sentido é mesmo isso, cada iniciado é um órfão sem pai, sem mãe, porque misticamente falando cada iniciado nasce a partir de si próprio. Que curioso é que os outros nomes pelo qual Cagliostro foi conhecido  em diferentes alturas tenham em cada instância um significado esotérico particular.
Para cada Cagliostro que aparece, existe sempre um Balsamo. Acompanhando de perto e na verdade inseparável de cada mensageiro está a sua sombra. Junto de cada Cristo aparece um Judas.”
Blavatsky dizia que o fim dele “não foi totalmente imerecido, pois Cagliostro foi infiel aos seus votos em alguns conceitos: saiu do estado de castidade e cedeu à ambição e ao egoísmo.”

G. de Purucker comenta:

“O falhanço de Cagliostro não foi resultado da vulgar paixão humana, nem da vulgar ambição humana, conforme entendem as pessoas estes termos….Existem às vezes mais tragédias na vida de um Mensageiro do que seria esperado, pois um Mensageiro jura obediência em ambas as direções – obediência à lei geral do seu karma, de que ele não se pode afastar um só passo, e obediência igualmente estrita à Lei daqueles que o mandaram… Sejam, portanto, caridosos no vosso julgamento desse grande e infeliz homem, Cagliostro!”

FIM


Um agradecimento final a David Pratt, pela autorização dada para a tradução dos seus excelentes textos para português.

sábado, 7 de setembro de 2013

Mitos e verdades sobre o Conde de Saint-Germain (9ª parte)

Continuamos com a tradução (adaptada) do texto “O Conde deSt. Germain” de David Pratt.

12. Cagliostro e Mesmer 

Saint-Germain, Cagliostro e Mesmer foram todos mensageiros da Fraternidade Himalaia durante o séc. XVIII, assim como H.P.Blavatsky foi sua mensageira no séc. XIX. KH diz que Saint-Germain e Cagliostro foram ambos “cavalheiros da mais alta educação e das mais elevadas realizações, e presumivelmente europeus” mas que eram olhados na altura e posteriormente como “impostores, cúmplices, trapaceiros” [Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett, vol.II, carta nº92, p.85]. Ele condena a “presunção e obscurecimento mental” dos académicos que “perseguiram Mesmer e que classificaram Saint-Germain como um impostor”. [op.cit, vol.I, Carta XX, p.132].

Nascido na Alemanha em 1734, Franz Anton Mesmer estudou na Universidade de Viena e tornou-se doutor em medicina em 1766. Em 1773 ele começou a tratar pacientes com ímanes, mas passados alguns anos deixou de usar ímanes, acreditando que as curas envolviam a transferência de um fluido subtil ou força vital, que ele chamava de magnetismo animal. Em 1777 ele deixou Viena e no ano seguinte montou o seu consultório em Paris. A sua fama cresceu rapidamente e passados alguns anos Mesmer estava tratando vários milhares de pacientes ao ano e com grande sucesso.

O seu sucesso enfureceu a comunidade médica, e como a sua clientela provinha da classe média-alta ele foi acusado de lhes extrair dinheiro por explorar a sua ingenuidade. Em 1784 uma comissão composta por membros da Faculdade Francesa de Medicina e da Academia Real das Ciências declarou que as suas curas eram inteiramente atribuídas à imaginação dos seus pacientes, isto apesar de se terem dado ao trabalho de entrevistar Mesmer durante a sua investigação. Ele faleceu em 1815, ressentido do facto da sua descoberta não ter sido oficialmente reconhecida e por alguns dos seus discípulos terem distorcido os seus ensinamentos. A prática comum de fazer equivaler o mesmerismo ao hipnotismo é um grande erro.

Helena Blavatsky descreve Mesmer da seguinte forma: 

“Famoso médico que redescobriu e aplicou praticamente ao homem aquele fluido magnético, que foi designado pelo nome de “magnetismo animal” e, desde então, “mesmerismo”.(…) Era membro iniciado da Fraternidade dos Fratres Lucis [Irmãos da Luz] e de Lukshoor (ou Luxor) ou o ramo egípcio desta última. O Conselho de Luxor elegeu-o – segundo as ordens da “Grande Fraternidade”- para atuar, no séc. XVIII, como explorador comum, enviado no último quarto de cada século para instruir na ciência oculta uma pequena parte das nações ocidentais. O Conde de Saint-Germain, neste  caso, inspecionou o desenrolar dos acontecimentos e, mais tarde, Cagliostro foi comissionado para prestar seu concurso. Porém, tendo cometido uma série de erros mais ou menos fatais, foi destituído do seu cargo. Mesmer fundou a “Ordem da Harmonia Universal” em 1783, na qual, como era de se supor, ensinava-se apenas o magnetismo animal, porém, na realidade, expunham-se as doutrinas de Hipócrates, os métodos dos antigos Asclepieia, os Templos de cura e, muitas outras ciências ocultas. [Glossário Teosófico, p.372].

Franz Anton Mesmer (retirado de
marilynkaydennis.files.wordpress.com)


Não há provas seguras que Mesmer tivesse conhecido Saint-Germain.

Cagliostro (pronuncia-se Calli-ostro) foi um ocultista, maçon, filantropo e curador. HPB chama-o de “famoso adepto” cuja “verdadeira história ninguém nunca contou”.

“Sua sorte foi aquela de todo ser humano que dá provas de saber mais do que os seus semelhantes. Foi apedrejado até à morte através de perseguições, calúnias e acusações infames e, apesar disso, era amigo e conselheiro de personagens poderosas de todos os países que visitava. Finalmente, foi processado e sentenciado, em Roma, como herege, e diz-se que morreu durante a sua permanência num calabouço [em 1795]”
Conde Alessandro di Cagliostro (retirado de sil.si.edu)


A inquisição ligou o seu passado a um famoso ladrão nascido na Sicília de nome Giuseppe Balsamo, algo que parece ter sido feito com a intenção de denegrir Cagliostro.

Nos seus relatos pessoais, Cagliostro diz não saber o local do seu nascimento e a identidade dos seus pais. Ele diz que sob o nome de Acharat, passou a sua infância em Medina na Arábia, no palácio do Mufti Salahayn, o líder dos muçulmanos. O seu tutor, Althotas ensinou-lhe botânica, química e outras ciências. 

Althotas disse a Cagliostro que ele tinha sido deixado órfão com três meses de idade e que os seus pais eram Cristãos da classe nobre. Com doze anos, ele acompanhou Althotas a Meca, onde ficou três anos. Ele então viajou para o Egito onde, por volta dos seus dezoito anos, visitou os principais reinos de África e da Ásia.

Em 1766, Cagliostro acompanhou o seu tutor à ilha de Malta onde haveria de assumir o nome de Conde Cagliostro. Quatro anos depois desposaria Seraphina Feliciani, uma devota católica, analfabeta. Viajou por grande parte da Europa, incluindo Portugal, tendo por vezes usado outros nomes. Passava o seu tempo ajudando os pobres, curando os doentes e tendo encontros com pessoas importantes da sociedade, além de desenvolver trabalho maçónico. Parecia ter uma fonte inesgotável de dinheiro.

Ainda no campo da maçonaria, estabeleceu o seu próprio Rito Egípcio e fundou várias lojas de Maçonaria Egípcia, com sucesso variável. Contrariamente aos costumes maçónicos, estas lojas admitiam mulheres. A sua missão era purificar e elevar a Maçonaria e “enxertá-la” com a filosofia Oriental. Sem essa união, dizia Blavatsky “a Maçonaria Ocidental seria um cadáver sem alma”. Por vezes produzia fenómenos ocultos, mas ele percebeu que isto só conduzia a cada vez mais pedidos para mais maravilhas. Há testemunhas que Cagliostro terá produzido ouro mais do que uma vez, graças aos seus conhecimentos de alquimia.

Entre 1780 e 1783 e durante os três anos que passou em Estrasburgo, na Alsácia, a sua casa estava constantemente cercada pelos enfermos e por gente em sofrimento. Ele tratou 15 mil pacientes, dos quais apenas três morreram. Nunca cobrou um tostão e muitas vezes dava dinheiro aos pacientes pobres para que estes pudessem comprar comida e pagar as suas dívidas. Muitos desses casos tinham sido declarados incuráveis pelos médicos da ortodoxia. Cagliostro terá curado casos de gangrena, contudo foi catalogado de charlatão e todos os esforços foram feitos para minar o seu trabalho. Cagliostro preparava os seus próprios medicamentos e elixires e também conhecia o magnetismo animal. Um elemento crucial no seu sucesso era a sua capacidade para instilar esperança e confiança naqueles que tratava.

O seu trabalho inevitavelmente levantava oposição de pessoas, invejosas, gananciosas e sem escrúpulos.

Diz-se que terá sido um discípulo de Saint-Germain, mas não há provas efetivas disso. Entretanto, viu-se envolvido numa intriga palaciana e acabou preso na Bastilha. Mais tarde escreveria uma carta ao povo francês sobre a injustiça de ser detido numa prisão sem grandes provas e apenas por ordem do Rei, o que se diz terá ajudado a espoletar a Revolução Francesa. Deste modo, Cagliostro terá tido um papel mais relevante naquele desfecho do que o próprio Saint-Germain.


Continua na próxima semana…